Pobre de direita e esquerda caviar: siameses da superioridade
Quando se fala em contradições políticas no Brasil, dois personagens aparecem quase como caricaturas que, embora se posicionem em polos opostos, revelam-se mais próximos do que gostariam de admitir: o chamado “pobre de direita” e a “esquerda caviar”. Ambos se distanciam da ideia de “ser povo” — não no sentido biológico de pertencer às classes populares, mas no de assumir uma consciência coletiva de pertencimento. Como irmãos siameses, o que os une não é a identidade ideológica, mas a mesma sensação de estar para além do bem e do mal, de possuir uma visão superior da realidade que os diferencia da massa.
O pobre de direita é um fenômeno conhecido: aquele que, mesmo pertencendo a uma classe explorada, defende políticas, governos e sistemas econômicos que objetivamente prejudicam sua vida. Vota contra direitos trabalhistas, vibra com a redução do Estado social, justifica privilégios dos mais ricos e acredita que “se esforçando” poderá, um dia, ascender ao andar de cima. Trata-se de um devoto de um sonho que nunca se concretiza. Esse sujeito internaliza a lógica do opressor e a defende como se fosse sua. É a versão mais dramática da alienação política, porque implica não apenas em desconhecimento, mas em uma adesão quase religiosa ao próprio algoz.
Já a esquerda caviar, tão criticada por sua incoerência, se constitui por indivíduos que, embora se digam progressistas, vivem em bolhas de privilégios inacessíveis ao cidadão comum. Artistas, intelectuais e formadores de opinião que, cercados de conforto material, falam em nome do povo sem realmente experimentar o........
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