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O paradoxo do Papa Francisco – a religião importa?

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yesterday

Escrevo este texto depois das cerimónias fúnebres do Papa Francisco, quando se prepara o conclave que procederá à eleição do novo pontífice romano.

Nos últimos dias, a esfera pública foi tomada por um coro de pronunciamentos sobre o que representa esta figura, no contexto da nossa contemporaneidade. Já o sabíamos, mas tornou-se mais patente: a figura do Papa Francisco suscitava um crédito muito mais amplo do aquele que é gerado pela instituição a cuja comunhão presidia.

É o «paradoxo do Papa Francisco». Em 2019, o sociólogo italiano, Luca Diotallevi, dava este título a um dos seus livros, propondo-se reformular as mais hegemónicas conceções sobre a secularização, precisamente a partir de uma interpretação deste paradoxo: como compreender esta dicotomia entre o carisma de uma liderança religiosa e o capital simbólico da instituição que ele representa?

As instituições religiosas, em particular, constituem-se como um tipo de organização estruturada a partir de um universo crente partilhado. Representam uma memória autorizada (e que autoriza). Os historiadores – e outros cientistas sociais –, escreveram sobre uma crise religiosa, vivida em particular no Atlântico Norte, na década de 60 do século XX. Mas essa crise não se confinou ao campo religioso. Ela dizia respeito as todas as formas de comunhão ideológica, como partidos políticos e outras formas de aliança para promover valores comuns. Estes estudos procuraram mostrar que, mercê de um conjunto de transformações sociais, os indivíduos apresentavam-se cada vez mais autónomos em relação às instituições, resistindo a ver o seu lugar no mundo como uma posição «pronta-a-vestir». Abria-se um espaço mais amplo para compreender as dinâmicas culturais a partir da singularidade biográfica........

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