Portugal lê mais, e depois?
Não há dúvida: os portugueses estão a ler mais. Oiço-o nas notícias, leio-o em relatórios entusiásticos, sinto-o até nas filas das livrarias onde agora se empurra para comprar o último “fenómeno TikTok”, uma expressão que, até há pouco tempo, associava mais a coreografias com cães do que a obras literárias.
Mas deixemo-nos de ilusões. Estar a ler mais não significa, de todo, estar a ler melhor. Houve um tempo em que isso era claro: distinguia-se o livro da estação do livro de cabeceira. Hoje, tudo se confunde num só corredor — o dos tops, que grita com capas fluorescentes, títulos sensacionalistas e uma obsessão quase pornográfica com reviravoltas e cliffhangers. Puro capitalismo. A livraria tornou-se um feed de Instagram com lombadas.
Admito: também me sabe bem, num dia abrasador de praia, deitado na toalha com uma bola de Berlim colada ao umbigo, ler um thriller barato sobre criadas com segredos obscuros e amantes com agendas escondidas. Há espaço para esse tipo de leitura — há espaço para tudo. Mas não me venham depois vender a ideia de que acabaram de consumir um festim literário digno de um Nobel, só porque © PÚBLICO
