Para além da Economia Política do protecionismo trumpiano
Não há um dia que passe sem notícias ou comentários sobre os previsíveis efeitos económicos da corrida aos direitos aduaneiros iniciada pela administração Trump. Essa é uma dimensão da escalada protecionista que não pode ser menosprezada. Os efeitos da aplicação de direitos aduaneiros não escapam ao cálculo económico: quem perde, quem ganha, que perdas terão as economias nacionais, quem retalia contra quem, possivelmente desfazendo as contas anteriores, e assim sucessivamente. A maré alta protecionista é o pressentimento da maré baixa económica. Por mais que Trump e os seus conselheiros económicos queiram iludir o conhecimento científico e a confrontação com a realidade, se o rastilho do protecionismo não for apagado o mais certo é todos ficarem a perder quando forem apurados os efeitos do sismo protecionista.
A guerra comercial planetária contempla outros efeitos que escapam ao radar da Economia. O principal problema talvez nem seja a abjuração do multilateralismo que, com altos e alguns baixos, foi axial após a Segunda Guerra Mundial. Os seus efeitos, longe de estarem consensualizados na literatura, costumam ser reconhecidos como a causa de um longo período de prosperidade económica. Todavia, o que pretendo demonstrar escapa à alçada da Economia, o que me leva a mudar o ângulo de análise para os efeitos até agora anonimizados pela análise dominante.
Em primeiro lugar, a demissão do multilateralismo corporiza um retrocesso na frágil concórdia internacional inaugurada após a Segunda Guerra Mundial. A negação do........
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