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O regime no divã

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13.03.2024

Não é surpresa. Não pode ser surpresa. Para além do ar do tempo internacional, ao qual Portugal chega sempre com atraso, a fatura do descontentamento acumulado ao longo das últimas décadas far-se-ia sentir a dado momento. Depois de décadas de euforia com a entrada na União Europeia nos 80, o virar do século, com a adopção do Euro e a entrada da China na Organização Mundial de Comércio e as péssimas escolhas internas das elites, abriram as portas a uma estagnação económica nas últimas duas décadas. O elevador social deixou de funcionar. Na última década, Portugal sofreu uma intervenção externa que deixou marcas profundas. Era, aliás, motivo de comentário nos meios políticos e académicos internacionais a surpreendente ausência de consequências da intervenção externa na competição política. Como é que uma crise social tão profunda não tinha consequências políticas? Vimos um primeiro-ministro, e toda a sua corte económica, envolvida em escândalos gravíssimos, que implodiram o banco do regime e uma das maiores empresas nacionais, serem presos e em julgamento por crimes que lesaram os contribuintes em milhares de milhões de Euros. A sensação difusa de impunidade da classe política e de fim de festa estava no ar há muito tempo.

André Ventura colheu o fruto bem maduro do caldo de cultura que andámos a cultivar nas últimas décadas. A fatura chegou com atraso, mas chegou, como seria inevitável. Ventura foi o empreendedor político certo na hora certa que conseguiu mobilizar toda uma multidão de descamisados. De resto, aquilo que estamos a assistir agora é apenas uma versão redux do que já vimos noutros países. Nos Estados Unidos, fizeram-se verdadeiras excursões da redacção do New York Times até ao Ohio profundo (In this diner in Ohio…). Aqui, far-se-ão excursões até snack-bars no Alentejo, nos subúrbios de Lisboa e no interior esquecido. A sensação de cópia de pechisbeque não se fica por aqui, contudo. Citando Nuno Garoupa em conversa privada, o ciclo a que assistimos é uma cópia perfeita daquilo que já vimos noutros países. Estes movimentos suscitam, em primeiro lugar, o........

© Observador


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