Quem é o meu semelhante? (III)
1.O horror ao outro nos outros: como podemos proteger-nos dele? Não devo ser a única pessoa que acordou da noite eleitoral nauseada e dormente. Em grande medida, ela não se explica sem confrontar o horror ao outro nos outros, nos nossos. Que fazer a seu respeito, se se acredita, como acredito, que juntos do outro valemos mais e nos tornamos melhores do que separados dele? Transformar a dormência em vitalidade: persistir na ideia, cada vez mais impopular, de que os lugares florescem da diversidade omnívora; e que as pessoas florescem dos lugares. Reencontrar a alegria no rosto do outro: do vizinho, do estranho, do estrangeiro. Encontrar nessa alegria uma forma de resistência, como diz a canção.
2.Não cismar que o lugar onde vivemos é “nosso”. Nenhum lugar nos pertence, se é que nós lhes pertencemos. É da natureza dos lugares tal como das pessoas não terem dono. Ou antes: podemos comprar terras e casas (aqueles de nós que têm meios para o fazer), podemos herdar ‘propriedades’, mas não se é proprietário das condições de pertença. Entender, assim, no confronto connosco e a nossa........
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