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A importância do suporte básico de vida

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20.09.2025

A paragem cardiorrespiratória (PCR) é a situação de emergência, mais crítica, com que vítimas e socorristas se defrontam. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, aproximadamente 20 mil pessoas por dia, em todo o mundo, sucumbem devido a morte súbita. O número de óbitos, relacionados a doenças cardíacas, tem registado um aumento significativo nos últimos anos, tornando-se a principal causa de PCR súbita.

Portugal possui um dos sistemas de emergência extra-hospitalar mais avançados, contudo, a intervenção imediata, antes da chegada dos profissionais especializados, é absolutamente decisiva para salvar vidas. Ligar para o 112, embora fundamental, não é suficiente para garantir a sobrevivência após PCR.

Durante a PCR, o coração e os pulmões deixam de funcionar, impedindo o fornecimento de oxigénio e nutrientes aos órgãos vitais. Em apenas três a quatro minutos sem reanimação, as lesões cerebrais e cardíacas tornam-se irreversíveis. Este é, frequentemente, o tempo gasto para realizar a chamada de emergência. Com quatro minutos de inatividade, a probabilidade de sucesso na reanimação cai drasticamente para cerca de 50%.

Então o que pode ser feito para mudar esta realidade? A resposta é clara e urgente: Iniciar imediatamente o Suporte Básico de Vida (SBV).

É natural que surjam dúvidas e receios — muitos hesitam, temendo piorar a situação.

Contudo, caro leitor, num quadro tão crítico, qualquer intervenção orientada, é sempre preferível à inação, pois a vítima encontra-se sem sinais vitais. A ausência de SBV imediato quase invariavelmente conduz a um desfecho fatal, mesmo após a chegada dos profissionais de emergência, pois o socorro avançado, nessa fase, pode ser já demasiado tardio.

Apesar da reconhecida qualidade do sistema de emergência português, ainda falta uma política estruturada para o ensino generalizado do SBV à população, um fator crucial para garantir a manutenção da oxigenação dos órgãos vitais até à chegada do socorro especializado. Estudos científicos, robustos, demonstram que intervenções precoces elevam substancialmente as possibilidades de sobrevivência.

O SBV associado à Desfibrilhação Automática Externa (DAE) assume um papel fundamental, mas o uso do DAE em Portugal permanece ainda muito limitado. De acordo com o registo nacional de paragem cardiorrespiratória pré-hospitalar do INEM, em 2024, foram confirmadas 19655 PCR extra-hospitalares, destas, foram iniciadas manobras de RCP, antes da chegada da equipa de emergência, em apenas 18,36% das situações. Percentagem muito aquém da média europeia em que este valor atinge os 59,5%, chegando a atingir os 78,3% noutros países.

A atuação imediata de quem presencia uma PCR é vital, o que exige a implementação urgente e contínua de programas de formação em SBV e SBV-DAE ao longo da vida académica e profissional.

Os benefícios destes programas são múltiplos e significativos. Em primeiro lugar, aumentam exponencialmente as probabilidades de sobrevivência, pois a rápida aplicação de SBV e desfibrilhação pode duplicar ou triplicar as taxas de sucesso em casos de paragem cardíaca súbita. Em segundo lugar, promovem o empoderamento da população, conferindo confiança e preparação para agir eficazmente em situações de emergência. Por fim, fomentam a criação de uma verdadeira rede de primeiros socorristas: quanto maior o número de pessoas capacitadas, maior a probabilidade de assistência imediata, seja em locais públicos, seja em ambiente doméstico, onde se regista a maioria das emergências cardíacas.

Em suma, aprender SBV não é apenas uma habilidade técnica, é um compromisso........

© Observador