menu_open Columnists
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close

O novo clero laico: a elite cultural e mediática

9 1
16.04.2025

Ligamos a televisão e percorremos os canais tradicionais — SIC, TVI/CNN, RTP, Now — e deparamo-nos com o mesmo desfile: comentadores profissionais, políticos reciclados em analistas, figuras públicas convertidas em especialistas, jornalistas que se dizem escritores e escritores que se apresentam como peritos. Os rostos mudam, mas o discurso mantém-se. Por vezes lá surge um “especialista” que é professor ou técnico com selo académico para justificar o consenso, porque este convoca todo e qualquer oficiante. O debate público tornou-se uma encenação previsível, onde a divergência autêntica é evitada e a pluralidade reduzida a variações dentro da mesma ortodoxia.

Será que o certo e o errado, o bem e o mal, se tornaram tão evidentes que apenas um louco ou criminoso ousaria contestá-los? Este pensamento homogéneo, que se afirma liberal e progressista, revela-se afinal como uma forma de pensamento único.

O filósofo Byung-Chul Han descreve essa uniformização não como imposição autoritária, mas como resultado de mecanismos subtis de controlo simbólico. Estes atuam sobre o prestígio e a reputação, articulando-se com as dinâmicas das redes sociais e do mercado para definir os limites do discurso público.

O novo progressismo exerce uma hegemonia discursiva que, embora se diga inclusiva e libertadora, tende a excluir vozes dissidentes. Em temas como identidade de género, alterações climáticas, imigração, raça ou política global, o dissenso é frequentemente moralmente condenado — rotulado como “negacionismo”, “discurso de ódio” ou “retrógrado”.

O problema não está nos ideais progressistas em si, mas na sua transformação em dogmas inquestionáveis, usados para censurar ou patologizar qualquer divergência.

Raramente as elites culturais exerceram um poder simbólico tão uniformizador — nem mesmo em regimes totalitários. A homogeneização dos discursos “aceitáveis” é evidente, sobretudo nos meios académicos e culturais, onde a dissidência é deslegitimada como “inaceitável”.

Este fenómeno não nasce de uma conspiração, mas de um sistema liberal-progressista incapaz de lidar com o dissenso genuíno. A elite cultural impõe um consenso ideológico que trata o pensamento crítico como populista,........

© Jornal SOL