Adam Smith definiu a forma como pensamos sobre os mercados livres. O seu princípio orientador era, como ficou famoso, a mão invisível – uma força mística ou a mão de Deus, mas a ideia de que a prossecução dos interesses individuais na vida económica produziria inevitavelmente uma economia otimizada e previsível. A teoria assentava no pressuposto de que os indivíduos eram racionais na compreensão das suas necessidades e, consequentemente, nas suas ações económicas. A intervenção do governo iria, portanto, perturbar o funcionamento das relações económicas naturais. Para Smith, nenhuma intervenção global ou bem-intencionada no mercado livre poderia otimizar o resultado da economia; a otimização só é conseguida através da liberdade de ação. Coletivamente, as ações individuais racionalizavam o sistema, impulsionavam a sociedade e, fundamentalmente, proporcionavam uma previsibilidade tal que os caprichos irracionais de alguns tinham pouco impacto no todo.

O problema – de que Smith tinha plena consciência – era que os seres humanos faziam parte de nações e que as economias dependiam da viabilidade das nações. O desejo dos cidadãos de maximizar a sua riqueza impulsiona as nações, mas a riqueza é apenas uma das dimensões de uma nação. As paixões internas das nações – as diferenças entre regiões geográficas, valores culturais ou níveis de educação – desencadeiam tensões no seio das nações que enfraquecem a mão invisível, porque a riqueza pode ser acumulada de tal forma que se podem formar classes que usariam o poder político para perturbar o mercado livre. Mas Smith estava consciente de que a desigualdade nos resultados económicos poderia desestabilizar a nação e, consequentemente, enfraquecer a economia. Ele nunca abordou o problema de como estabilizar um sistema se a riqueza das nações estivesse concentrada nas mãos de poucos. As nações podiam ser ricas, mas os seus cidadãos podiam ser pobres. Assim, a economia mista funcionava com o Estado a manipular a economia,........

© Jornal SOL