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Donald Trump e as presidenciais em Portugal

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tuesday

O que é que uma coisa e outra têm a ver? Tudo. O espetáculo de afirmação de um ego, sem olhar a meios e a limites, nem aos princípios fundadores da pátria americana, como o da separação de poderes, num bailado constante de instabilidade guiado por um programa político de afago a interesses particulares e de resposta ao imaginário de parte do povo americano é uma tragédia, que se constitui em alerta para o mundo. A sua tentativa de exportação urbi et orbi, sem taxas alfandegárias, teve a consagração maior na ameaça de aplicação de uma taxa de 50% ao Brasil, com um argumento comercial falso e uma pressão político-judicial inaceitável, por ser intrusiva na soberania e na separação de poderes de outro país. O desmando sustentado de anúncios, atropelos, recuos, implosões, zigue-zagues, imposições unilaterais, desconsiderações verbais e muitos “quero posso e mando”, sem pingo de equilíbrio ou racional, são importantes avisos para o mundo. Por mais que o exercício farto em afago de egos, do próprios e dos circundantes, e em múltiplas expressões agressivas de exercício do poder conseguirá sempre alguns resultados na recuperação de uma certa grandeza formal imperial, mas os danos de confiança e de destruição que vai gerando, terão dimensões que serão irreversíveis ou toleradas apenas até os visados terem alternativa normalizadas. O fluxo contínuo de verbalização de tarifas aduaneiras unilaterais a aplicar a parceiros pode agradar ao séquito, mas gera um nível de rutura emocional de muitos com esta expressão da América. O problema é que a gestão dos impulsos e dos humores em modo Trump, ao nível dos governos, pode ser geradora de incompreensões na opinião pública suscetíveis de fazerem evoluir um “Don’t buy Tesla” para um “Don’t buy USAmerican”, com capacidade de produzir dano efetivo nas empresas, marcas e economia norte-americana. É uma pena que Trump não possa falar com Musk para que este lhe testemunhe que, em abril deste ano, as vendas europeias da Tesla caíram cerca de 49 %. É o que acontece quando o desfasamento do exercício político entra em choque com as pessoas, gerando irritação e reação popular, além da gestão dos governos. É o que acontece quando se faz das “selfies” um pilar do exercício presidencial, quando se quer disponibilizar um perfil autoritário para responder ao deslaço existentes em muitos aspetos da sociedade ou quando se ensaia querer ter na presidência uma extensão dos interesses de outros poderes. Qualquer exercício excessivo, sem senso, equilíbrio e noção de todas as partes em presença, tenderá a produzir mais dano do que solução à democracia e às comunidades. Da mesma forma que os extremismos, os fundamentalismos e os populismos deslaçam e criam tensões desnecessárias para o muito que há que fazer, um exercício político desfasado, sem resultados imediatos, é gerador de novas tensões que acrescentam divisão e alheamento dos cidadãos. Sem diálogo, pontes, convergências e compromissos mínimos, muito do exercício não passará de uma circunstância que, por ter sido imposta por uns a outros ou por ser uma marca que alguém quis apor ao país, será removida na primeira oportunidade, numa dialética de imprevisibilidade e de tempo perdido que tem pontuado a nossa democracia em muitos aspetos.

O exercício político tem de ser mais que a circunstância, a trincheira, a agenda pessoal ou do grupo a que........

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