menu_open Columnists
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close

A falta de noção de Luís Montenegro e outras variações

8 10
yesterday

Por vontade expressa, que as omissões sendo reveladoras, não contam para o campeonato da configuração das soluções de governança e para a formatação das opções políticas, o país deixou-se enlear num quadro de miséria em que o que mais choca é a incapacidade dos protagonistas para a autocrítica, a geração de sustentabilidade das escolhas, a criação de pontos de convergência e a sintonia com o interesse geral na construção de respostas para as pessoas e os territórios, num tempo que é diferente de todos os outros que muitos de nós vivemos. É uma espécie de voragem generalizada para o abismo, sem filtro, sem critério e sem noção do essencial, mas não é só de agora.

É falta de noção presidencial passar anos na fronteira da intrusão nas funções governativas num quadro de uma solução parlamentar maioritária de esquerda ou de maioria absoluta do Partido Socialista, com profusas intervenções públicas e reparos de estilo e de substância, mas, por asco com a falta de mimo do primeiro-ministro, vindo do “país profundo, urbano-rural, com comportamentos rurais”, ter feito muito pouco para sinalizar a necessidade da governabilidade de um governo sem maioria parlamentar, sempre com registo de sobranceria na ação governativa, a fustigar o passado e os do presente. Marcelo Rebelo de Sousa agigantou-se com maiorias de esquerda, anulou-se com a minoria de direita, permitindo os destratos, as imposições de opções políticas de turno sem futuro e a persistência de disfunções no funcionamento de serviços vitais. O ocaso de Marcelo, feito de vazia, também resulta dos bloqueios dos verões passados, das opções de função presidencial que adotou e da doutrina que foi gerando, mesmo sem nexo com a Constituição.

É falta de noção de uma maioria de governo comportar-se desde início sem a humildade suficiente para perceber que as condições de governabilidade têm de ser geradas, construídas e sustentadas, não por imposição, meio marialva, à bruta, mas num quadro de diálogo e compromisso próprio de quem não dispõe de suporte parlamentar de base. Mas, não. Montenegro e os seus galifões comportaram-se como se não tivesse havido ontem e não emergisse um amanhã, sempre a pensar mais na circunstância do que no país. A falta de noção generalizada contagiou a sociedade portuguesa colocada numa espiral em que à falta de critério, quase tudo é um alvo em movimento em função dos objetivos pretendidos, sem senso, sem ponderação das consequências e sem fidelidade que baste ao interesse do país, ao Estado de Direito Democrático e à Democracia. Montenegro quis governar, com o seu programa e as suas opções políticas, com o apoio expresso ou anuído de terceiros, com parco diálogo, muita afronta e sem compromisso. A raiz da efervescência política, pré-eleitoral, está famosa promiscuidade entre política e negócios, que do plano pessoal se projetou no plano institucional de titular de cargo político por falta de zelo, de transparência e de noção de uma evidente situação de incompatibilidade: ser parte jurídica um acervo empresarial a receber avenças de privados com interesses diretos na ação governativa. É claro que, tendo direito a ter vida fora da política, sem ter assegurado o fim dessa situação e a transparência junto de instituições........

© Jornal i