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A lição italiana

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11.11.2025

No primeiro ato de “Rigoletto”, a corte diverte-se com leviandade enquanto o bobo, convencido de que domina a cena, não percebe que o feitiço já começou a virar-se contra si. Há qualquer coisa de profundamente italiano nessa fusão entre tragédia e farsa, nessa capacidade de transformar o colapso em melodrama e o melodrama em reinvenção. Durante décadas, a Europa olhou para Itália como o Rigoletto da união monetária: barulhenta, indisciplinada, sentimental, sempre à beira do desastre. De repente, é o próprio “Financial Times” que vem dizer ao público europeu: olhem para Itália, aprendam com Itália. Não deixa de ser irónico que seja precisamente o antigo elo fraco a ser apresentado como nova medida de virtude.

Convém separar o ruído da música. O artigo que proclama que “a Europa deve aprender com Itália” não é propaganda governamental; é o reflexo de uma evidência incómoda para muitas capitais: os mercados deixaram de tratar Roma como paciente em coma. O índice FTSE MIB acumulou ganhos robustos num ciclo em que outras praças europeias patinaram. O custo de financiamento italiano estreitou em relação ao núcleo duro, houve momentos em que a dívida de Roma foi considerada menos arriscada do que a de Paris, e a narrativa dominante já não é a do calote iminente, mas a da disciplina orçamental possível. A mensagem política, lida de Lisboa a Varsóvia, é simples: quem oferece estabilidade e seriedade orçamental é recompensado.

Giorgia Meloni entendeu melhor do que muitos dos seus colegas europeus a gramática deste tempo. Ao chegar ao poder, não rasgou a pertença ao euro, não desafiou frontalmente o Banco Central Europeu, não encenou guerras permanentes com Bruxelas. Fez o oposto do que se esperava de uma líder rotulada como “pós fascista”, como populista, como uma........

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