Helena Freitas

Durante séculos, as sociedades ocidentais organizaram-se em torno da convicção de que existia uma verdade estável, universal e acessível à razão humana. Essa crença funcionava como eixo estruturante: sustentava instituições, legitimava a ciência, orientava narrativas históricas e oferecia uma base moral partilhada. As mentiras, nesse contexto, eram entendidas como desvios pontuais - exceções que, paradoxalmente, confirmavam a existência de uma referência central. Hoje, porém, esse eixo desfez-se. O que emerge não é apenas o erro ou a falsidade, mas uma multiplicidade de perspetivas, interpretações e quadros simbólicos que coexistem no espaço público sem reconhecer um fundamento comum. A crise contemporânea não resulta da simples proliferação da mentira, mas do colapso da ideia de verdade como entidade única, estável e incontestável.

A modernidade alimentou a ilusão da........

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