A tirania da produtividade
Como lembrava Agostinho da Silva: “O Homem não nasceu para trabalhar, mas sim para criar”
O que aconteceria se, por um momento, nos permitíssemos o luxo de não sermos úteis? A pergunta soa a heresia numa era que transformou a otimização do tempo numa nova religião e o nosso calendário num altar sagrado onde cada minuto vago é um pecado a ser expiado com mais uma tarefa, mais um projeto, mais um scroll “informativo”. Vivemos sob o feitiço do hustle, a glorificação do excesso de trabalho disfarçado de propósito de vida. As redes sociais transbordam de rotinas de sucesso que começam antes do sol nascer e de gurus que nos ensinam a transformar cada paixão num side hustle, cada momento de lazer numa oportunidade de networking. A mensagem é clara e implacável: parar é fracassar. O descanso só é legítimo quando serve para “recarregar baterias”, ou seja, quando é uma pausa instrumental para garantir a produtividade futura. Abdicámos do descanso como fim em sim mesmo.
Esta lógica não nasceu do nada. É o eco de um sistema económico que invadiu a nossa........
© JM Madeira
