O Brasil entre o Ocidente e o Sul Global
As reuniões de cúpula do Mercosul e dos BRICS, ocorridas de forma quase concomitante, foram assunto de destaque nos últimos dias. O fato de o Brasil assumir, a partir de agora, a presidência rotativa do Mercosul e, ao mesmo tempo, liderar os BRICS convida à reflexão sobre o papel geopolítico do país no cenário internacional tão conturbado dos dias de hoje.
Segundo uma definição simples, geopolítica é a área do conhecimento que estuda a aplicação do poder estatal a determinado espaço geográfico. Quando se fala em Mercosul, a definição geográfica fica bastante clara: o bloco reúne um grupo de países da América do Sul, todos interessados em, de forma sinérgica, ampliar, pela ação conjunta e concertada, seus insumos de poder para negociar com países ou blocos comerciais de outras partes do mundo a partir de uma posição mais forte e, em consequência, mais vantajosa.
Em relação aos BRICS, entretanto, a análise geopolítica se torna muito mais complexa. A dificuldade começa desde a criação do bloco, que não nasceu como um instrumento da geopolítica, mas como uma sacada inteligente de um relatório econômico de 2001 do banco Goldman Sachs, ao reunir em um acrônimo as letras iniciais de quatro potências emergentes: Brasil, Rússia, Índia e China. A ideia de reunir países tão diferentes e analisá-los de forma conjunta fazia sentido naquele momento: o potencial apontado pelo relatório se confirmou, pois, entre 2003 e........
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