Clezão, o sonhador da Papuda
“Nós somos da matéria de que é feito o sonho.”
(A Tempestade, Ato IV, Cena I)
Durante o banho de sol, Clezão aproximou-se de Beto e disse:
― E aí, meu amigo? Tudo bem?
― Dentro do possível, tudo bem... Não posso reclamar.
― É, aqui a gente não pode mesmo reclamar. Mas me diga uma coisa, Beto, você tem saído muito para passear?
― De que você está falando, Clezão? Está de brincadeira comigo? Você sabe que eu sou seu vizinho de cela... Como é que eu vou sair para passear?
― Você não entendeu, Beto. Deixa eu explicar. Na noite passada, por exemplo, eu levei minha esposa para jantar em um restaurante japonês. Não é nada muito chique, não. É um restaurantezinho que a gente gostava de frequentar na época do namoro. Primeiro, eu tomei um banho bem demorado, escolhi uma camisa azul que ganhei no Natal passado e passei perfume. Ela demorou para ficar pronta, mas, meu amigo, valeu a pena. Estava linda, com os cabelos soltos e um vestido florido. Abri a porta do carro para ela e, no caminho para o restaurante, fomos olhando a Lua, que parecia um olho cintilante no céu de Brasília. Chegando lá, pedimos sukiaki e tomamos um vinho chileno... Isso mesmo: vinho chileno em restaurante japonês! Essas coisas só........
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