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Cardeal Fernández se precipita em julgamento sobre título de “corredentora” para Maria

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O leitor da coluna sabe que não tenho nenhuma simpatia pelo cardeal Victor Fernández, que desde julho de 2023 é o prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, confirmado provisoriamente no cargo por Leão XIV após sua eleição – o termo técnico é donec aliter provideatur, “até que outras providências sejam tomadas”. E, enquanto outras providências não são tomadas, ele vai fazendo seus estragos, dos quais o mais recente é a nota doutrinal Mater Populi fidelis, “sobre alguns títulos marianos referidos à cooperação de Maria na obra da Salvação”. Para ser generoso, é um documento que parte de uma série de premissas verdadeiras para chegar a conclusões complicadas, ou que pelo menos desconsideram um longo trabalho de refinamento teológico. Para entendermos o motivo, vamos direto ao ponto.

Nos pontos 4 a 15 da nota, o cardeal Fernández faz uma recapitulação histórica bem abrangente sobre a evolução teológica da compreensão do papel de Nossa Senhora na história da redenção. Até aí, maravilha. É quando o texto vai tratar do título de “corredentora” que o caldo entorna. Esse título nunca foi formalizado em uma declaração dogmática – os quatro dogmas marianos, em ordem cronológica de definição, são a maternidade divina, a virgindade perpétua, a Imaculada Conceição e a Assunção –, mas tem havido quem a solicitasse ao Vaticano. O cardeal Fernández cita brevemente santos, papas e teólogos favoráveis ou opostos a esse título, para então cravar: “levando em consideração a necessidade de explicar o papel subordinado de Maria a Cristo na obra da Redenção, é sempre inoportuno o uso do título de Corredentora para definir a cooperação de Maria”.

Sempre inoportuno” é uma avaliação pesada demais, ainda mais quando tantos santos e papas usaram essa expressão – além daqueles citados na própria nota, a internet já está fervilhando de outras referências. Sim, temos ninguém menos que Joseph Ratzinger, um dos maiores teólogos do século 20, se opondo; para ele, chamar Maria de “corredentora” era usar um “vocábulo equívoco”, como disse a Peter Seewald no livro-entrevista Deus e o Mundo. Mas, como lembrou a vaticanista Delia Gallagher no X, Ratzinger passou 30 anos no Vaticano, como cardeal-prefeito do mesmo dicastério hoje ocupado por Fernández e como papa, e nunca viu a necessidade de publicar uma nota formalizando sua opinião. “Dada a atenção que ele........

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