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De onde vêm a malandragem, o banditismo e a truculência policial do Rio

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Vamos começar por Manoel Antônio de Almeida, no folhetim “Memórias de um sargento de milícias” (1854-1855), clássico de nosso romantismo, que retrata a vida do Rio de Janeiro no início do século 19, na Corte de João VI, e desenvolve pela primeira vez a figura do malandro. Pouco antes da independência, como agora, a cidade era marcada por uma ordem social frouxa e negociável, pelo compadrio, pela esperteza e pela ausência de moral rígida, na qual emerge a figura de Leonardo, o anti-herói que ascende pela malandragem e pela proteção dos poderosos.

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Estão ali as raízes profundas da cultura política e policial brasileira, na qual a lei é maleável e a autoridade se confunde com o favor, desde a criação daquela que viria a ser a Polícia Militar do Rio de Janeiro. O sargento Vidigal está vivíssimo, é o arquétipo da autoridade que oscila entre o arbítrio e a conivência, entre o Estado e o “jeitinho”, ao mesmo tempo repressor e corrupto, que encarna o poder de manter a disciplina, mas também de participar dos mecanismos informais de dominação e lucro. Mais atual impossível.

Vamos aos primórdios da República, quando saiu do prelo “Os sertões” (1902), de Euclides da Cunha, que descreve a Guerra de Canudos (1896-1987), a tragédia que mostrou um país dividido entre o oficial e o real, cuja iniquidade social era desconhecida pela classe média urbana e as elites urbanas de hábitos europeus.

A partir daí, o sertanejo, visto inicialmente como bárbaro, místico e cidadão de segunda classe, se torna símbolo da resistência de........

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