Preservar o solo, proteger o clima
Malu Nunes — diretora executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN)
"Afagar a terra, conhecer os desejos da terra." O verso da música de composição de Milton Nascimento e Chico Buarque, na década de 1970, traz uma lição que já deveríamos ter aprendido: compreender e respeitar as necessidades do solo e da natureza. Diante da crise climática, ainda se discute pouco sobre como o solo é um aliado na redução do aquecimento global, na adaptação da sociedade e na mitigação de impactos e eventos extremos — recurso fundamental para o fornecimento da água, a produção de alimentos e a conservação da biodiversidade.
As mudanças climáticas impactam diretamente o solo em sua capacidade de produção, funcionalidade e composição. Eventos climáticos extremos causam grandes impactos, como a perda de fertilidade, desestruturação do solo e a erosão. O mau manejo do solo contribui com esses e outros impactos, além de provocar grandes emissões de gases de efeito estufa (GEE). Por outro lado, o bom manejo tem potencial para remover carbono da atmosfera e ajudar no combate ao aquecimento global.
De acordo com mapeamento do Centro de Estudos de Carbono na Agricultura Tropical, da Escola Superior de Agricultura Luís de Queiroz (Universidade de São Paulo de Piracicaba), 38% do solo da América Latina e do Caribe estão degradados. Esse número é maior do que a média mundial, de 33%. O estudo considerou fatores físicos, químicos e biológicos, como porosidade total, água disponível para as plantas e estoque de carbono.
Um exemplo claro dos impactos da crise climática sobre o solo foi o desastre........
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