O testemunho constituinte da licença-paternidade
ANA SOFIA GUERRA, psicanalista, psicóloga, embaixadora da CoPai e filha de Alceni Guerra, autor da licença-paternidade
Em 1988, o então deputado federal Alceni Guerra propôs a inclusão da licença-paternidade na Constituição. À época, a resistência era grande. Dias antes da votação, o presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Ulysses Guimarães, lhe disse que o artigo dificilmente seria aprovado.
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O momento era simbólico. Alceni havia se tornado pai havia poucos dias, quando eu nascera. Minha mãe enfrentava complicações graves no pós-parto. Meu pai se dividia entre o Congresso e uma casa com uma recém-nascida, uma esposa hospitalizada com uma depressão puerperal em curso e três filhos pequenos.
Na véspera da votação, uma noite agitada da filha caçula o manteve em vigília. Naquelas horas, formulou a estratégia para seu discurso em defesa da licença-paternidade: uma fala colérica, à altura da resistência que enfrentava. No dia seguinte, atrasado, se dirigiu às pressas ao Congresso Nacional. Ao subir à tribuna, foi anunciado por Ulysses como "o homem gestante", provocando gargalhadas gerais.
Diante dos risos, decide fazer outra coisa com seu inconformismo. Abandona o discurso raivoso e fala........
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