IA: uma travessia sobretudo civilizatória
Mário Salimon — consultor internacional, especialista em comunicação e gestão da estratégia e membro da Rede do Conhecimento do Fórum do Futuro
As inteligências artificiais (IAs) se configuram muito rapidamente como camada estrutural e estratégica da vida organizacional. Reduzir seu papel à eficiência operacional é ignorar seu real impacto: a redefinição das relações humanas mediadas por tecnologia e, consequentemente, de culturas organizacionais, sociais e políticas. Assim, a condução responsável das transformações resultantes desse fenômeno disruptivo exige um duplo movimento: de um lado, investir em inovação tecnológica; de outro, promover inovação relacional.
Desde tempos antigos, o ser humano busca insuflar vida no inanimado. Autômatos mitológicos, criaturas artificiais na literatura e no cinema e dispositivos como o ábaco e o mecanismo de Anticítera prefiguraram a ascensão da IA. De marcos como o teste de Turing e a invenção da internet até a chegada dos grandes modelos de linguagem, como o ChatGPT, percorremos um longo caminho, não apenas técnico, mas também simbólico e social.
Talvez por essa gênese ancestral fantástica, a disseminação da IA nas organizações seja frequentemente acompanhada de uma visão mágica e acrítica: a suposição de que a introdução de tecnologias avançadas resultará automaticamente em eficiência e vantagem competitiva. Essa crença é ingênua........
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