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Cais do Valongo entre nós

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05.10.2025

PAULO PAIM, senador (PT-RS)

Uma vertente de sangue abriu-se no corpo quando caiu ao solo sobre as pedras, e uma junção de dor, choro e desespero apertou os olhos e as mãos. Já não via mais nada, nem movia os dedos. Mas a cabeça resistia. Ela insistia em cenas coloridas, em pássaros e seus cantares, em planícies verdejantes do outro lado do mar (...).

Homens, mulheres e crianças, gente negra, sequestrada, tratada como mercadoria, escravizada, torturada, morta, vilipendiada na dignidade, arrancada de sua terra, exilada do seu chão, de suas mais profundas convivências espirituais, de suas famílias, seus lares, seus amores. Qual o significado da vida?

Jamais devemos esquecer o passado, pois ele é fonte de aprendizado para que os horrores e as desumanidades que aconteceram por séculos jamais voltem a se repetir. O próprio passado nos ensina a não repeti-lo, nem subjugá-lo. Cabe a nós, à sociedade e aos governos compreender esse ensinamento.

Mais de um milhão de africanos desembarcaram no Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, a partir de 1811, quando foi construído. Foi o maior porto negreiro das Américas. Esse espaço é testemunho de um dos maiores crimes da humanidade. Ali há uma simbologia enorme de resistência e de busca por reparação histórica para o povo negro.

O local também foi um porto distribuidor de pessoas escravizadas para outros........

© Correio Braziliense