Oposição frontal ao governo Lula é ultra-esquerdismo
“Quem corre atrás de duas lebres, uma e outra perderá”
(Provérbio popular português).
1.
A esquerda está dividida diante do governo Lula. Um campo minoritário radical e muito fragmentado, mas combativo de militância abnegada e despojada, defende que, apesar de tudo o que aconteceu nos últimos dez anos, é necessário ser oposição de esquerda ao governo Lula.
Mesmo considerando a estreita vitória eleitoral de Lula em 2022, a vitória da extrema direita nas eleições municipais de 2024, a eleição de Javier Milei e Donald Trump, e a permanência de um apoio de massas ao bolsonarismo. Nessa chave “super-bolchevique” polemiza ferozmente contra as correntes revolucionárias que insistem que a melhor tática deve ser a independência, apoiando as medidas progressivas e justas, e criticando as medidas reacionárias e impopulares.
Mas não é verdade que há somente dois caminhos: apoio incondicional ou oposição irredutível ao governo Lula. No repertório da esquerda marxista existem outras táticas. Entre o recuo constante e a ofensiva permanente existem outros movimentos para ganhar tempo sem ceder posições. Quando não estamos em uma situação revolucionária nunca é “tudo ou nada”. Há a necessidade de táticas que fazem mediações.
Existe o espaço e o tempo para manobras que permitam acumular forças. Infelizmente, o governo abraçou a estratégia de buscar a governabilidade “a frio”, custe o que custar, “risco zero”. O que pode ser fatal no que está por vir. O enfraquecimento do governo Lula nos deixa diante do perigo do abismo de uma derrota avassaladora em 2026, pior até que em 2018.
Mas ainda há tempo, se o governo fizer um giro à esquerda. Não depende da esquerda combativa que este giro venha a ser feito, porque não temos força bastante. Mas pressionar por um giro à esquerda não é o mesmo que exigir de Lula que “faça a revolução”. Isso seria ultimatismo. Um giro à esquerda é o caminho apontado pelo plebiscito popular. Essa é a tática pela qual vale a pena a lutar. Não é uma tática original, sequer inusitada. Não é uma “invenção” brasileira.
Respeitadas as enormes diferenças da analogia, trata-se de fazer exigências ao governo Lula como Vladímir Lênin defendeu que o bolchevismo fizesse ao governo provisória liderado pelos esseristas e mencheviques em abril de 1917, para ganhar tempo. A diferença é que tudo na conjuntura brasileira é mais difícil e, sobretudo, muito mais lento. Não há a pressão da guerra, os nossos Kornilov’s já tentaram o golpe, e o desfecho da medição de forças será no terreno eleitoral. Mas o principal é que não estamos em uma situação revolucionária.
2.
Mais difícil e lento porque ainda não foi revertida a situação reacionária aberta, por variados fatores. Evidentemente o governo Lula não é inocente neste processo, tem muitas responsabilidades. A relação de forças poderia ter evoluído mais favoravelmente, se Lula e a maioria da direção do PT tivessem disposição de correr mais........
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