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Lula e o canto de sereia do trumpismo: soberania ou submissão na nova guerra fria

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O encontro entre Lula e Trump é mais do que diplomacia: é um teste de força entre o líder com maior soft power do planeta e um império em declínio que reativa a Doutrina Monroe com sanções, tarifas e guerra informacional.

Diante de um Trump em guerra com o próprio povo e de um império que ataca o mundo para preservar sua hegemonia, Lula precisa transformar a reunião em ato de afirmação nacional: diálogo, sim — submissão, nunca. O Brasil não pode servir de alicerce para um império em ruínas.

O momento-limite da hegemonia americana

Os Estados Unidos entraram no século XXI tardio como um império que já não consegue sustentar por dentro o que exige por fora. A fagulha está doméstica: protestos massivos, uma máquina de vigilância que tenta conter o dissenso e uma economia política que terceiriza frustrações para inimigos externos. O trumpismo é o sintoma agudo dessa crise — ele reorganiza a energia social do colapso, promete ordem com mão pesada e exporta instabilidade para reordenar a agenda. Ao mesmo tempo, o tabuleiro externo virou um mosaico de frentes abertas: uma trégua nominal em Gaza convivendo com bloqueios e ataques; a escalada contínua no Líbano com risco regional; a “paz” performática na Ucrânia usada como alavanca sobre a Europa; e, no nosso hemisfério, a Doutrina Monroe reembalada em tarifa, sanção e jurisdição extraterritorial. Tudo aponta para o mesmo centro de gravidade: um poder que perdeu capacidade de consenso e tenta compensar com coerção híbrida.

Para o Brasil, esse momento-limite tem contornos materiais: pressão sobre cadeias críticas (minérios, semicondutores, dados), cabos e nuvens como fronteiras de soberania, e o cerco diplomático que busca transformar o país em aliado funcional — e, portanto, previsível. É aqui que a reunião com Trump ganha densidade histórica: não é um ritual de cortesia, é uma medição de forças. O império testa; quem cede, vira precedente. O único antídoto é projetar custo: custo reputacional para quem tenta rebaixar o Brasil, custo econômico para quem arma tarifas punitivas, custo político para quem ameaça nossa jurisdição. O relógio da hegemonia corre contra Washington; o do Brasil corre a favor — se soubermos usar a crise do centro para consolidar autonomia no entorno.

O trumpismo como sintoma de desespero imperial

O trumpismo não é uma ideologia nova; é o reflexo deformado de um império que teme o próprio declínio. Ele traduz a ansiedade da sociedade americana diante da perda de centralidade global e a converte em doutrina política: restaurar a ordem por meio da força e projetar o caos para fora. Quando a economia interna não entrega estabilidade e o consenso social se rompe, o imperialismo volta à sua linguagem natural — a coerção. Sanções, tarifas, leis extraterritoriais e intervenções navais são o mesmo gesto traduzido em diferentes dialetos.

Trump encarna a fusão entre o capital corporativo da guerra e o ressentimento popular domesticado em moralismo autoritário. Por isso, seu governo — e agora seu retorno — não propõe um projeto de mundo, mas um instinto de sobrevivência imperial. O trumpismo precisa de inimigos externos para sustentar a ficção da grandeza interna. A cada crise doméstica, ele escolhe um novo alvo: China, Venezuela, Irã, agora o Brasil. É a política externa como extensão terapêutica da decadência.

Quando um império chega a esse ponto, diálogo e dissuasão deixam de ser conceitos diplomáticos e passam a ser mecanismos de defesa. Conversar com Trump exige entender que ele negocia como quem ameaça, e ameaça como quem precisa negociar. É um império que só respeita quem o obriga a respeitar.

A Doutrina Monroe 2.0 — coercitiva, digital e disfarçada

O que antes era uma doutrina militar explícita — a velha promessa de que “a América é para os americanos” — hoje reaparece travestida de pragmatismo e discurso de segurança. A Monroe 2.0 não precisa mais de fuzis; basta o dólar, o algoritmo e a sanção. Ela opera em múltiplas camadas: financeira, jurídica, tecnológica e informacional. A nova face do controle é a coerção híbrida — o uso combinado de instrumentos legais, econômicos e digitais para submeter Estados sem disparar um tiro.

Nos últimos meses, Washington costurou uma arquitetura de poder que mistura tarifas punitivas, lawfare........

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