Brasil sob mira
Estamos prestes a sofrer um apagão militar, tecnológico e institucional — orquestrado por quem controla nossos sistemas de defesa, comunicação e vigilância. Raytheon, Elbit, Palantir, OTAN, Trump. As ameaças já começaram. A sabotagem já está em curso. O país que não controla seus próprios radares, satélites, softwares e dados será transformado em colônia armada — ou campo de guerra.
O eixo EUA–Israel e o cerco à soberania brasileira - O Brasil está sendo sufocado por um cerco silencioso, mas brutal, que vai muito além da guerra comercial anunciada por Trump ou das sanções secundárias ameaçadas pela OTAN. Trata-se de um cerco estratégico multidimensional conduzido por dois centros de poder profundamente entrelaçados: os Estados Unidos e o Estado de Israel. Juntos, eles formam o eixo operativo da nova ofensiva global contra os países do Sul que ousaram construir soberania, articular integração regional ou enfrentar os interesses do capitalismo informacional-militar.
A crise diplomática desencadeada pelas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra o genocídio do povo palestino operou como catalisador de um movimento coordenado de retaliação. O lobby sionista global, apoiado por setores ultraconservadores brasileiros e articulado com think tanks de extrema-direita nos EUA e Europa, intensificou a pressão sobre instituições, contratos e sistemas sensíveis do Estado brasileiro. Esse processo não é novo. O que é novo é o grau de vulnerabilidade do Brasil frente a ele — resultado direto de décadas de dependência tecnológica, sabujismo doutrinário e entrega institucional promovida por setores das Forças Armadas, polícias e elites políticas.
Desde a redemocratização, o Brasil transformou-se em um dos maiores consumidores mundiais de tecnologias israelenses e estadunidenses voltadas à vigilância, controle social e policiamento ostensivo. Isso inclui desde softwares de interceptação e mapeamento facial — como os fornecidos por empresas como Cellebrite, Cognyte, Elbit Systems e Palantir — até radares, mísseis, aviões não-tripulados e sistemas de guerra eletrônica providos por gigantes como Raytheon, Lockheed Martin e Rafael Advanced Defense. O Brasil é, hoje, um cliente vulnerável de um sistema de defesa que não controla e que, diante de um conflito com seus fornecedores, pode ser deliberadamente interrompido, sabotado ou usado contra a própria população.
O núcleo bolsonarista das forças de segurança — militares, polícias e grupos paramilitares — constitui o braço ideológico interno deste eixo de submissão. São os mesmos que veneram Israel como modelo civilizacional, almejam uma teocracia armada de cunho cristão-fascista, e defendem um alinhamento automático com os EUA em todas as esferas: militar, econômica, digital e cultural. Os símbolos estão por toda parte: bandeiras de Israel nos acampamentos golpistas, treinamento de policiais militares em centros de contraterrorismo israelenses, agentes da ABIN e das PMs em cursos oferecidos por empresas privadas com laços diretos com o exército de Israel.
Enquanto isso, o governo Lula tenta — entre contradições internas e resistências institucionais — traçar uma linha soberana na diplomacia, especialmente ao denunciar o genocídio em Gaza e apoiar a entrada da Palestina na ONU. Mas essa linha está sob ataque cerrado. O Brasil se tornou, simultaneamente, uma pedra no sapato das potências ocidentais e um laboratório experimental das novas técnicas de desestabilização: tarifação seletiva, espionagem, lawfare, controle logístico via software, e guerra cultural digital de longo prazo.
O que está em jogo não é apenas a posição internacional do Brasil — é a possibilidade de existir como país autônomo. O cerco não se expressa com tanques nas fronteiras, mas com contratos assinados, atualizações de firmware, sanções moduladas e dependência programada. Um país que não controla seus próprios sistemas de defesa, comunicação e inteligência é um país que pode ser desligado. Um país que treina suas forças de segurança com seus algozes é um país em guerra com seu próprio povo.
O eixo EUA-Israel já não esconde sua operação sobre o Brasil. Ele age como estrutura — econômica, ideológica, tecnológica e simbólica. Enquanto isso, parte do sistema político e das elites locais age como cavalo de troia, sustentando o discurso de que o país “precisa se modernizar” adotando “tecnologias de ponta”, mesmo que isso signifique abandonar a capacidade soberana de defesa. Em nome da segurança, a segurança é destruída. Em nome da liberdade, a soberania é anulada. Em nome da “cooperação”, o Brasil é vendido em partes.
O cerco está em curso. E se não for enfrentado agora, poderá se fechar por completo antes que o país perceba que já está no campo de batalha — só que do lado errado da mira.
Lawfare, Lava Jato e a destruição da capacidade estratégica nacional - Poucos episódios recentes da história brasileira condensam com tanta clareza o cruzamento entre sabotagem econômica, desmonte institucional e ataque à soberania quanto a Operação Lava Jato. Disfarçada de cruzada anticorrupção e vendida como símbolo de regeneração moral da política, ela foi, na verdade, uma das ferramentas mais eficazes da guerra híbrida conduzida contra o Brasil. E não se tratou apenas de desestabilização do sistema político — seu alvo era também o coração estratégico do país: sua capacidade de construir autonomia tecnológica, industrial e militar.
No centro dessa operação de terra arrasada esteve a Odebrecht Defense, braço de tecnologia militar da maior empresa de engenharia pesada da América Latina. Fundada com base na expertise da Mectron — empresa nacional de altíssimo nível tecnológico em guiagem de mísseis e sistemas eletrônicos militares — a Odebrecht Defense havia se transformado, entre 2011 e 2015, em um dos polos mais promissores do Sul Global na produção autônoma de armamentos de alta complexidade. Seu portfólio incluía o míssil ar-ar de quinta geração A-Darter, desenvolvido em parceria com a África do Sul; o míssil antirradiação MAR-1, projetado para inutilizar radares inimigos; e o sistema ASTROS 2020, uma das plataformas mais avançadas de artilharia de saturação do mundo, utilizada pelo Exército Brasileiro e considerada um dos pilares da dissuasão nacional. Esses projetos não eram apenas armamentos — eram instrumentos de soberania. Eram frutos de parcerias Sul-Sul, engenharia nacional, universidades públicas e instituições de pesquisa integradas à estratégia de defesa do país.
É precisamente por isso que a Odebrecht Defense se tornou um alvo. A Lava Jato, articulada com setores do Judiciário, da mídia e do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, destruiu em tempo recorde a base industrial e tecnológica que sustentava a possibilidade de um Brasil soberano na área de defesa. Sob o pretexto de combater a corrupção, a operação criminalizou contratos estratégicos, interrompeu projetos de décadas, desmobilizou centros de pesquisa e paralisou a cadeia produtiva de defesa. Sem direito à reconstrução, sem proteção institucional, a Odebrecht Defense foi vendida — praticamente liquidada — à israelense Elbit Systems, uma das maiores fornecedoras globais de tecnologia de repressão, vigilância, armamentos letais e sistemas cibernéticos para regimes autoritários e forças de ocupação.
A aquisição da Odebrecht Defense pela Elbit não foi apenas uma compra comercial. Foi a apropriação de memória técnica, de conhecimento acumulado, de processos produtivos e de parcerias estratégicas construídas ao longo de décadas. Israel, por meio da Elbit, incorporou aos seus ativos a capacidade brasileira de produzir mísseis, sistemas de defesa aérea, dispositivos de comando e controle e soluções autônomas que o Brasil vinha desenvolvendo como parte de uma estratégia de independência. Esse episódio se soma ao escândalo do projeto SIVAM, em que a Raytheon — gigante estadunidense da indústria bélica — venceu uma licitação bilionária de forma fraudulenta, com apoio da CIA, espionagem diplomática e suborno de autoridades brasileiras para controlar os sistemas de vigilância da Amazônia. Desde então, o padrão se repete: soberania tecnológica brasileira sendo desmontada, bloqueada ou comprada a preço vil por potências estrangeiras com interesses geopolíticos claros.
A Lava Jato destruiu, com amplo apoio da elite e da mídia, a espinha dorsal da indústria de defesa nacional. E mais do que isso: destruiu a confiança do Estado em sua própria capacidade de projetar poder. Após a queda da Odebrecht, universidades foram ‘desfinanciadas’, o DCTA perdeu capacidade operacional, a Avibras entrou em crise, e boa parte da engenharia militar passou a operar com baixa capacidade de inovação, confinada à lógica da terceirização e da dependência externa. Sistemas críticos de defesa, vigilância e comunicação — incluindo radares, aviônicos, algoritmos de comando e sensores ópticos — passaram a ser importados dos Estados Unidos, de Israel e de consórcios europeus alinhados à OTAN. O Brasil, que antes projetava independência e se tornava referência no Sul Global, virou cliente subordinado e fragilizado.
Hoje, não há segurança nacional sem risco. O Brasil opera sistemas que não controla. O código-fonte dos softwares de defesa está sob sigilo de empresas estrangeiras. As atualizações dependem de acordos políticos. A manutenção técnica de equipamentos críticos é realizada fora do país. A cadeia logística é vulnerável a qualquer sanção, interrupção ou sabotagem. Em uma eventual ruptura diplomática com EUA ou Israel — cenário cada vez mais plausível diante da posição do Brasil na questão Palestina e na articulação do BRICS — o país pode sofrer um apagão tecnológico total em setores como defesa aérea, vigilância de fronteiras, telecomunicações estratégicas e proteção cibernética.
A Lava Jato foi mais do que uma operação judicial. Foi uma ação coordenada de desestruturação da soberania nacional. Uma ofensiva de guerra híbrida operada pelo judiciário, mídia, agências internacionais e think tanks do capital estrangeiro. Sua vítima foi o futuro do país. E sua consequência direta foi a entrega de setores estratégicos às mesmas potências que hoje ameaçam sanções, tarifas e isolamento. O Brasil perdeu a capacidade de se defender porque permitiu que seus instrumentos de defesa fossem desmantelados por dentro. E o pior: com aplausos.
Tecnologias críticas em mãos inimigas — um mapa da dependência letal -........© Brasil 247
