A pátria dos traidores
Nos últimos anos, a ideia de pátria foi sequestrada e convertida em fetiche por aqueles que traem sua própria gente enquanto ostentam bandeiras e slogans vazios. Camisas verde-amarelas, orações em inglês, armas na cintura e subserviência ao império não são símbolos de patriotismo. São disfarces da traição. A maior vitória dos apátridas não foi entregar nossas riquezas: foi falsificar o próprio sentido da soberania. Mas a pátria não é deles.
Este ensaio nasce da necessidade de recuperar esse nome — pátria — para o povo. Para os que resistem, constroem, cultivam, ensinam e sonham com um país livre, justo e autônomo. A pátria não é um território a ser vendido, nem uma ideia ornamental. É uma ética. Uma fidelidade coletiva. Uma decisão inegociável de que este país pertence ao seu povo, e não ao capital financeiro, às big techs, aos lobbies transnacionais ou aos tribunais ideologicamente instrumentalizados.
Defender a pátria, hoje, é um gesto de ruptura com a lógica colonial e com o mercado que trata o povo como ativo ou cliente. É compreender que não há socialismo sem soberania, nem redistribuição possível com o povo ajoelhado diante do Departamento de Estado ou da Faria Lima. É saber que soberania informacional, energética, alimentar e cognitiva são os novos nomes da luta concreta.
Este ensaio, portanto, é uma denúncia e um chamado. Denúncia contra os que traíram a pátria: figuras históricas e contemporâneas que atuaram como corretores da destruição nacional. Chamado à memória, à responsabilidade e à construção de uma nova ética revolucionária da soberania. Porque a pátria é nossa. E não há mais tempo para hesitação.
QUANDO A PÁTRIA SANGRA
A traição é mais do que um crime; é uma fratura moral na espinha de um povo. Ela não acontece por engano, não se dá no escuro, não é obra do acaso. Traição é escolha. Escolha consciente de se colocar contra o projeto coletivo de um país, de se alinhar com os interesses do invasor, do saqueador, do senhor externo. O traidor não erra: ele decide.
A pátria, ao contrário do que dizem os reacionários de ocasião, não é um fetiche. Não é uma bandeira tremulando no capô de um carro blindado. Não é um hino gritado com ódio enquanto se prega a destruição do próprio povo. A pátria é chão, suor, memória e futuro. É o lugar onde nascem os nossos, onde sangram os nossos, onde lutam os nossos. A pátria é a soma dos corpos e dos sonhos de gerações que, mesmo esmagadas, insistiram em dizer: este território é nosso, este destino é nosso.
E, no entanto, há aqueles que, de dentro da casa, sabotam os alicerces. São rostos familiares, vozes que falam nossa língua, nomes que se fingem de legítimos. Mas eles servem a outros senhores. Não há traição maior do que a que se faz sob o disfarce de patriotismo. A história do Brasil está marcada, desde o início, por esses vultos da infâmia: os Silvérios, os Lacerdas, os Moros, os Bolsonaros. Gente que negocia o destino de milhões como quem fecha contrato em mesa de leilão. Gente que aceita sanção, tarifa, destruição, contanto que sobre algum privilégio para os seus.
A história não é neutra diante dos traidores. No Haiti revolucionário, os colaboracionistas foram sumariamente julgados. Na França ocupada pelos nazistas, foram raspados, expostos e condenados. Na Venezuela, a constituição garante o banimento de quem entrega a soberania ao capital estrangeiro. E no Brasil? No Brasil, o traidor é promovido, eleito, comentado no horário nobre. No Brasil, o traidor se traveste de herói nacional enquanto destrói estatais, entrega riquezas, sabota políticas públicas e bajula presidentes estrangeiros que nos tratam como colônia.
A traição tem custo. Custa a destruição da indústria nacional, o desmonte da ciência, o abandono da educação, o desemprego em massa. Custa também em sangue: o sangue que escorre nas favelas sem saneamento, nos hospitais sucateados, nos territórios indígenas invadidos, nas periferias onde a fome voltou com a fúria de quem nunca foi embora. Cada decisão tomada por um traidor da pátria reverbera em milhares de ausências. Cada acordo assinado com Washington ou Tel Aviv, com Wall Street ou Davos, é uma punhalada no projeto de autonomia do Brasil.
Se há algo que uma nação que quer se reconstruir precisa fazer, é reconhecer quem está ao seu lado e quem trabalha para seu colapso. Este texto é um memorial contra o esquecimento, um grito contra a normalização da infâmia e uma convocação à justiça popular, pedagógica e soberana.
O QUE É A PÁTRIA, E POR QUE ELA IMPORTA
A pátria não é um conceito romântico ou um sentimento difuso que aparece em datas cívicas ou no canto rouco de um hino nacional. Ela tampouco pode ser reduzida à cartografia ou à legalidade do Estado. A pátria é, acima de tudo, uma construção histórica e material. É o espaço onde um povo luta para existir com dignidade. Um corpo coletivo que se forma não apenas pelo solo, mas pela memória, pelo trabalho, pela dor e pelo desejo de autonomia.
Quando se fala em pátria do ponto de vista dos dominadores, fala-se de fronteiras, de mercados, de projeção geopolítica. Mas quando se fala em pátria do ponto de vista do povo, fala-se de comida, fala-se de saúde, fala-se de território, de floresta, de futuro. Fala-se de liberdade concreta: a possibilidade real de um povo viver segundo seus próprios princípios, sob sua própria organização, produzindo sua própria riqueza e defendendo seu próprio destino.
A pátria é o nome político do direito de existir com soberania.
Mas para os que se ajoelham diante do capital estrangeiro, a pátria é um estorvo. Para os que fazem do Estado um balcão de negócios, a pátria é uma empresa em liquidação. Para os que vendem reservas de petróleo, destroem universidades, atacam a cultura, sabotam a indústria, sucateiam a saúde pública e entregam dados da população a potências externas, a pátria é apenas um obstáculo ao lucro. Um atraso.
É por isso que a definição da pátria importa. Porque se não soubermos o que ela é, qualquer um poderá se disfarçar de patriota enquanto comete traição. O bolsonarismo, por exemplo, sequestrou a linguagem da pátria para legitimar um projeto antinacional. Falaram em Deus, família, Brasil enquanto destruíam o SUS, entregavam o pré-sal, desmontavam a soberania alimentar e negociavam a Amazônia como ativo financeiro. É o velho truque dos tiranos: vestir-se com a pele da nação enquanto cravam nela os dentes do inimigo.
Nas revoluções populares, a pátria sempre teve outro nome: trincheira. Bolívar chamava de pátria a possibilidade de um povo ser dono de seu próprio........
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