O Elevador
CENA 1
Dia 7 de Setembro. Elevador parado no térreo. Barulho de trovões e temporal. Entra um jovem de 25 a 30 anos, enrolado na bandeira nacional. Mochila nas costas. Em seguida, um senhor de uns 60 anos, com terno e gravata, entra esbaforido e visivelmente bêbado. Trilha musical: “Stella by starlight”, com Ray Charles.
O SENHOR
Poderia apertar o 21 pra mim, por favor?
O JOVEM
Já apertei. É o meu também.
O SENHOR
Por que está enrolado na bandeira?
O JOVEM
Sou patriota. Sou Bolsonaro.
O SENHOR
Então o senhor errou de bandeira. Porque a bandeira dele é a dos Estados Unidos. Ele é fantoche do Trump. Ele e toda a família. O filho já mudou para lá. E, de mais a mais, onde está escrito que basta se enrolar na bandeira para ser patriota?! Parece que o senhor bebe! Bandeira não é cobertor. Tem que ficar tremulando, hasteada nos edifícios, não enrolando manés como você. Você está desrespeitando a bandeira!
O JOVEM
Epa! O que foi isso?
O SENHOR
Parece que essa merda parou. Graças a Deus! Quero deixar bem claro que não acredito em Deus.
O JOVEM
Caralho! Ainda faltam dez andares! Cadê o zelador? (Pega o celular, tecla.) Não atende. Alô, Mário! Meu amor, estou preso no elevador no meio desse temporal. Por favor, faça alguma coisa, chama os bombeiros! Estou aqui no prédio da Jovem Pan, na Paulista. (Desliga.)
O SENHOR
O senhor está bêbado? Eu olho para o senhor e vejo o senhor girando. E o elevador também está girando.
O JOVEM
Eu não bebo álcool. Sou abstêmio.
O SENHOR
Ah, bom! Folgo em saber que você não está bêbado… se estivesse eu não........
© Brasil 247
