Edificai a família
Tenho notado um fenômeno interessantíssimo: meus melhores amigos, escolhidos ao longo de décadas com precisão e esmero, pinçados com meus olhos cirúrgicos, catapultados de um mundo abarrotado de cópias tediosas de almas concretas e capturados pela minha atenção, viraram intragáveis conservadores. Estou sozinha. Se você quiser me levar para almoçar, te passo meu endereço.
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Eles não ousam dizer a frase na minha cara, mas leio em suas retinas o outdoor que grita "é preciso edificar a família". Mesmo em alguns corpos magros, vejo o esmegma acumulado, a gordura espiritual, o andar pesado, ombros arredondados e endurecidos pela obrigação de ser e parecer um adulto, ser e parecer uma esposa, um marido, uma mãe, uma patroa. Chegaram à idade em que é preciso abandonar o misto doloroso de "desejo & confusão" para viver com entrega a escolha sufocante que os protege da exposição e do medo. Me assistem com pena e pavor (e inveja) porque sigo me debatendo e me afogando, de tempos em tempos (e como diria meu analista): "Em uma pocinha que é invisível a todos que se conformam com o que........
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