Bem grandão
Meu clínico geral havia me recomendado doutor Saulo, um gastroenterologista de sua confiança. Estava em pé, bebendo água e me perguntando de onde saem todos os quadros horríveis que os médicos ostentam em suas salas de espera, quando doutor Saulo abriu a porta. Não tenho certeza, mas acho que cheguei a balbuciar "minha nossa".
Doutor Saulo, indo na contramão de tudo o que eu imaginava, devia ter no máximo uns 32 anos. Seus ombros, larguíssimos, me deram a sensação de que ao percorrê-los eu chegaria ao Rio de Janeiro. Ele sorriu (a boca de quem pertence a uma geração que fumou menos e tomou menos antibióticos, lábios viçosos cobertos de leve por um bigode bem aparado) e não me chamou de "senhora".
Eu já estava completamente apaixonada quando doutor Saulo me deitou na maca e, com mãos enormes —enormes mesmo; não sei se já escrevi isto aqui, mas eram mãos enormes—, passou a apalpar minha barriga. Acho que eu estava de olhos fechados, prestes a cantarolar uma prece, quando ele começou a bater com os dedos, de forma mais ritmada e seca, e concluiu: "Tá cheia de gases".
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A dor de encarar aqueles olhos claros tão bem contornados por grossas sobrancelhas e responder:........
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