Um parecer no paraíso?
Ao fechar as cortinas de 2023, a academia foi abalada por um incidente emblemático. Uma pesquisadora, ao solicitar uma bolsa, recebeu um parecer de um consultor externo do Conselho Nacional Científico e Tecnológico (CNPq) alegando que suas gestações teriam "atrapalhado" certos aspectos de sua carreira. E, não, esse não foi um caso isolado que ocorreu em meio a um paraíso na academia e na ciência brasileiras.
A utilização da palavra "atrapalhar", impregnada de preconceitos, evidencia de maneira contundente como a maternidade é percebida e tratada no cenário acadêmico. O episódio, longe de ser uma exceção, lança luz sobre as complexidades diárias enfrentadas por mães na academia. Essa prática discriminatória, enraizada em estruturas antiquadas e estereótipos persistentes, ocorre ao longo da trajetória de muitas mães acadêmicas.
Precisamos questionar não apenas as circunstâncias específicas desse incidente, mas a estrutura mais ampla que permite tais avaliações. A maternidade exerce, sem dúvida, um impacto significativo nas carreiras das mulheres, especialmente em uma sociedade na qual elas são predominantemente responsáveis pelos cuidados familiares. No entanto, o entrave na progressão profissional das mães não é uma inerência da maternidade em si, mas uma consequência de um modelo de carreira ultrapassado e ineficiente.
Vivemos em um ambiente onde a trajetória de carreiras "promissoras", sem pausas ou desvios, é moldada pela rigidez da academia. A maternidade é interpretada como um obstáculo, perpetuando a ideia de que carreira e família são incompatíveis........
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