A inteligência artificial geral sai do armário
O ChatGPT acaba de fazer um ano. Nenhuma tecnologia do pós-guerra nos impactou tanto em período tão exíguo. A ferramenta da OpenAI tornou-se central para a mudança de zeitgeist em curso, a qual tem, entre suas facetas, a algoritmização relacional, a reavaliação do paradigma educacional que se escora na formação de memórias por repetição e as redefinições produtivas que prometem eliminar tarefas pouco inspiradoras e também multiplicar a taxa de desemprego.
Isso explica por que a remoção e subsequente recontratação de seu CEO, Sam Altman, ganhou tanta visibilidade. Para muitos, o que está em jogo é a própria orientação do "espírito do tempo" à luz da contraposição de interesses corporativos e preocupações societárias. Conforme Ronaldo Lemos apontou: "Sam queria [...] implementar produtos novos sem olhar para as consequências. Isso esbarrou no fato de a OpenAI [ser] regida por uma entidade sem fins lucrativos".
A especulação ventilada por veículos como Reuters e The Information é que o pomo dessa discórdia corporativa de consequências societárias seja um algoritmo chamado Q* (lê-se kiu-star), que permitiria ao ChatGPT raciocinar matematicamente, planejar suas produções pela comparação de alternativas e, em sentido restrito, treinar a si mesmo.
Essas parecem competências bastante distintas entre si, mas, tecnicamente, não são. Antes mesmo do surgimento dos atuais grandes modelos de linguagem (LLMs), como o ChatGPT, algoritmos se tornaram notícia ao bateram experts em jogos como Go e Poker.
Estas vitórias são traduções diretas (1) da habilidade desses de jogar consigo mesmos, modificando suas "sinapses" em função disso e (2) da capacidade de planejar cada jogada pensando no seu impacto de longo prazo, o que contrasta com o que fazem os LLMs atuais, que têm como janela de referência futura a próxima palavra.
Vale lembrar que jogos não são apenas diversão, vício ou esporte. Eles são referências para as dinâmicas sociais de mundo real, sejam elas opositivas ou cooperativas. Em 2017, um algoritmo chamado AlphaZero precisava de apenas duas horas de treinamento para compreender o jogo e superar grão-mestres. Seis anos depois, foi superado em muito........
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