O amor e não Marçal é que pode derrotar Boulos
AS DUAS PESQUISAS SOBRE A ELEIÇÃO paulistana divulgadas nesta semana mostram um quadro preocupante. O dado mais evidente é que Pablo Marçal sequestrou a agenda da disputa. A campanha pode se transformar num fla-flu entre quem é contra ou a favor do ex-coach. Racional ou intuitivamente, ele conseguiu captar uma insatisfação difusa no ar e transformá-la em impulso político. Uma insatisfação que pode ser aparentada à situação de 2013, quando todos os indicadores econômicos – PIB, emprego, renda etc. – apontavam para cima, até que um Krakatoa social entrou em ebulição. O fascismo cresce não apenas em situações de crise, mas em ambientes nos quais o descontentamento está nos subterrâneos da vida social.
MAIS DO QUE TUDO, Marçal radicaliza uma característica da extrema direita internacional nos últimos anos, a de se colocar como rebelde em meio a um horizonte de conformismo ou resignação geral. Isso gera engajamento militante, algo que não se vê em outras campanhas. Por mais que a família Bolsonaro insista no apoio a Ricardo Nunes, lhe falta exatamente essa viga mestra do neofascismo, a de se apresentar como antissistema.
HÁ UMA TENSÃO nos meios bolsonaristas. O “mito” quer empurrar para seus adeptos um político fisiológico de velho estilo, enquanto suas bases se identificam com o pique outsider de Marçal. Assim, é supérfluo debater quem o bolsonarismo reconhece como seu, até porque não se sabe até aqui se existe algo como “o bolsonarismo”, ou se estamos diante de uma manifestação neofascista de características novas e muito mais agressivas e letais à democracia. Marçal é o primeiro personagem extremista a se afastar da família miliciana sem que seu chão político desabe (lembremos da ascensão e queda de Joyce Hasselman e Alexandre Frota). Marçal é daqueles........
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