menu_open Columnists
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close

A realidade

11 1
thursday

1 Não foi uma surpresa, não foi uma novidade, não foi uma anormalidade e não foi um caso isolado. Mas foi como se alguém, de repente, me tivesse dado um valente encontrão. Um murro: estampado em letra de imprensa no último Expresso, a carta de uma leitora continha dentro dela, inteiro e brutal, um país que também existe chamado Portugal. Não sei se “sobretudo” existe ou se “também” existe, inclino-me para que este exista “sobretudo”. Exista na penumbra dos bastidores da ”digitalização”, dos websummits, dos milhões (atrasados) dos PRR, dos “eixos” do Príncipe Real, dos influencers, “dos chefs”, das férias longe daqui, dos ginásios, dos turistas, dos podcast. Das “bolhas” e bolsas tão distraídas sobre o país que está na montra e o que vive nos escombros do desanimo. Conhecem-se há tempo demais os índices da pobreza — a visível e a “envergonhada”; sabe-se o fosso entre quem tem vida e quem tem apenas um arremedo de vida; observam-se cada vez mais sem abrigos em cada vez mais lugares.

O que – num misto paralisante de ignorância e incapacidade – não se sabe, é quando é que alguém põe cobro a este abismo entre um Portugal frendly do pódio e a pátria madrasta das traseiras. Não vislumbro empreitada mais dramaticamente exigente no início deste governo

2 Reproduzo aqui carta a que aludi acima. Desarmante na sua escrita tão simples mas que, se repararem, contem tudo o que nos faz respeitar um ser humano: o trabalho, a responsabilidade do dever cumprido, uma dignidade magoada, o insulto da humilhação, um futuro sem........

© Observador