Montenegro e o dilema do PSD: será possível mudar?
Porque é que o PSD não substitui Luís Montenegro antes das próximas eleições? Na passada sexta-feira, Francisco Mendes da Silva (FMS) escreveu uma crónica interessante que explora as razões que levam o partido a decidir apresentar-se a eleições com um líder que parece não ser o ideal. De facto, Montenegro, apesar de partir para as eleições como o primeiro-ministro em funções, parte também com uma enorme desvantagem: a sua figura está irremediavelmente associada a defeitos que o eleitorado tende a rejeitar independentemente da ideologia política – suspeitas sobre a sua integridade ética. O PSD não arranjaria um líder melhor?
A insistência do PSD em ir às urnas com Montenegro parece difícil de conciliar com uma regra básica quase universal da política: os partidos políticos querem conquistar o maior número de votos para se manterem no poder. Temos, portanto, um paradoxo. O PSD quer ganhar as eleições mas parece não querer, ou não conseguir, substituir um líder eleitoralmente pernicioso. Esta observação não é particularmente original. Vários membros do partido a falar sob anonimato assim o afirmaram à Sábado e ao Observador.
Este aparente paradoxo está longe de ser exclusivo ao PSD ou mesmo aos partidos portugueses. São vários os casos em que partidos políticos se apresentam a eleições com líderes e candidatos subóptimos. Inúmeros líderes políticos vão a votos apesar de suspeitas e acusações de corrupção, de dúvidas generalizadas no eleitorado quanto à sua integridade, e até ideologias desfasadas do eleitorado.
Na sua crónica, Francisco Mendes da Silva defende que as democracias mais consolidadas são aquelas que constroem “uma cultura política através do enraizamento de costumes e regras legais estritas” para tentar domesticar as tendências políticas e humanas menos recomendáveis. Concordo plenamente que não podemos colocar o futuro das democracias na fé na bondade da natureza humana, mas sim em regimes onde os constrangimentos e incentivos dos actores estejam alinhados com a própria preservação da qualidade democrática. No entanto, os exemplos concretos que Mendes da Silva fornece merecem uma atenção mais detalhada para compreendermos melhor a natureza do problema.
Entre outros exemplos, Mendes da Silva compara o PSD com o Partido Conservador Britânico, salientando a agilidade interna deste último em substituir líderes impopulares e até mesmo primeiros-ministros em funções. Thatcher foi substituída em 1990 por John Major a meio do seu último mandato como PM. Recentemente uma sucessão de líderes foram liquidados: May, Johnson, Truss, antes de Sunak perder as eleições. Pelo contrário, no PSD não se vê qualquer tentativa interna de substituir Montenegro. Mendes da Silva aponta o sistema eleitoral britânico de eleição dos deputados em distritos........
© Observador
