Reparações: do pressuposto falso à ideia absurda
Foi há pouco mais de um ano que, de forma desastrada e algo confusa, Marcelo Rebelo de Sousa atirou com a ideia das reparações para a praça pública. Durante umas semanas o assunto chamou a atenção dos órgãos de comunicação social, mas depois, não encontrando uma verdadeira sustentação na sociedade portuguesa, saiu novamente de cena, não tendo regressado às primeiras páginas, à agenda política ou ao debate público. É muito provável que o assunto continue a fermentar nas universidades, mas desapareceu praticamente dos artigos de opinião e das redes sociais. Nos últimos seis ou sete meses tive apenas notícia de um ou dois artigos escritos, no Público, por João Moreira da Silva, um doutorando em Cambridge que transpira wokismo por todos os poros; de um colóquio dedicado ao tema e frequentado pela habitual gente do Bloco ou aparentada — João Moreira da Silva incluído, claro —; e de uma recente e amena troca de impressões num canal secundário da nossa televisão (RTP África) em que se disseram muitas platitudes e alguns disparates. Já tive ocasião de me debruçar sobre um desses disparates, mas o mais importante é perceber que a questão das reparações é, felizmente, um nado-morto em Portugal. Salvo melhor opinião e até prova em contrário, a maior parte dos portugueses sente e pensa que não há fundamento para pagar reparações por factos ocorridos durante a vigência do império colonial português, e as dezenas de activistas woke que até há uns anos se desdobravam em proclamações e escritos reivindicativos, desinteressaram-se, calaram-se ou foram pregar para outras freguesias.
Todavia, Portugal não é uma ilha e é bom não perder de vista que os países das Caraíbas e da África subsariana têm continuado a exigir reparações e que, longe dos holofotes, os governantes do Reino Unido, dos Países Baixos, da Alemanha, França e Bélgica, têm feito reuniões sobre essa questão. Ao que me informam, haverá no próximo dia 25 de junho, em Londres, um novo encontro dedicado ao assunto e consta que desta vez Portugal e Espanha serão convidados a participar nele. Eu continuo a duvidar que até mesmo o Reino Unido, onde o movimento woke é forte e o governo está na mão dos trabalhistas, se disponha a dar esse passo absurdo e suicida, mas tenho a convicção — para não dizer a certeza — de que no norte da Europa, sobretudo na Alemanha e na........
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