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O grito do país esquecido

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21.05.2025

Há mais de 30 anos, dia 24 de Junho de 1994, a Ponte 25 de Abril foi bloqueada a par de um buzinão em protesto contra a subida das portagens. Estávamos na fase final da década de Cavaco Silva e José Pacheco Pereira escreve um texto memorável – que só encontrei citado por José Manuel Fernandes — em que descreve a vida diária de trabalho de uma família de classe média, com filhos, a viver na margem sul, para apelar a que o PSD saísse da bolha em que vivia – a linguagem mais adaptada na altura seria que descesse à realidade. Passadas três décadas, há pelo menos um ano que se percebe que os partidos incumbentes, a esquerda e alguns analistas e comentadores vivem completamente fora da realidade dessa mesma família de classe média, agora no século XXI, que, hoje, em muitos casos, não consegue pagar as suas contas apesar de trabalhar.

Quem vive no centro de Lisboa ou do Porto dificilmente se dá conta de uma realidade que tem crescido no país. Tem uma vasta oferta de transportes públicos que vão do metro à Uber, passando pelas bicicletas e trotinetes. E os imigrantes que em geral conhece ou são os ditos nómadas digitais ou ricos ou são os que lhes levam a comida a casa ou ainda os dos táxis Uber. Assim como a comunidade cigana que conhecem está, na maioria dos casos, romantizada. São de esquerda como aquelas prósperas senhoras do Estado Novo que tinham pena dos pobrezinhos. Amam a educação e a saúde pública, enquanto têm os filhos nos colégios e o seguro de saúde ou o facto de trabalharem na função pública lhes permite ir aos hospitais privados. Nada disto seria grave se os partidos do regime não se tivessem metido também nessa bolha, com especial relevo para o PS, mas também o PSD.

No país das pessoas esquecidas, os vizinhos do lado são imigrantes com costumes que não entendem e que, por isso, lhes causam medo e insegurança. São famílias sem dinheiro para terem os filhos em colégios e com dificuldades em pagarem a prestação da casa ou a renda,........

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