Morro e ressuscito a cada minuto
Escritora, roteirista e uma das idealizadoras do movimento Um Grande Dia para as Escritoras
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Morro quando sei que no céu há um eclipse mas não estico o pescoço para fora da janela, nem sequer abro as persianas. Ressuscito quando lembro que sou feita de poeira de estrelas e paro por um segundo para olhar a mão em busca de algum brilho e, mesmo não encontrando rastros de Andrômedas, me fascino com as articulações dos meus dedos.
Morro quando ando maquinalmente para o meu emprego. Ressuscito quando pego outro caminho e me surpreendo com uma fachada ou porta que nunca vi.
Morro quando deixo de ouvir música, quando deixo de experimentar coisas novas no supermercado, quando deixo de usar cores, quando deixo de comemorar aniversários, quando deixo de me interessar pelos outros, quando desisto de acompanhar o que acontece no mundo. Ressuscito quando dou risada sozinho.
Morro quando sento de costas para não ver ninguém. Ressuscito quando puxo uma cadeira.
Morro quando passo todos os dias por baixo de uma árvore e só percebo no chão a sombra dos meus pensamentos. Ressuscito quando olho para cima e enxergo o que estou vendo.
Morro quando digo que políticos são "tudo a mesma coisa", quando me entrego para a ideia de apocalipse, quando digo que "não adianta, não vai mudar nada mesmo". Ressuscito quando creio.
Morro like a like quando passo por posts de crianças famintas ou desabrigados com indiferença - agora não, a piedade não foi........
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