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Rabo de turista procura parapeito de fonte barroca para relação casual

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11.03.2025

Março de 2025. Piazza di Trevi. Roma.

Dezenas, ou melhor, centenas de rabos empurram-se, desequilibram-se, gladiam-se, e acotovelam-se (mediante o que é permitido à fisionomia e tenacidade de um rabo) diante da majestosa Fontana di Trevi, a mais popular fonte de Itália, e uma das mais populares do mundo, a parábola a céu aberto do amor romântico, do erotismo cinematográfico, do poder milagroso das moedas mergulhadas em água com cloro e desinfetantes.

Os rabos pertencem a turistas, visitantes fortuitos da cidade que procuram um encontro pontual com o monumento icónico, uma espécie de speed dating, sem grande compromisso, mas com proximidade fervorosa, antes de partirem para outros encontros: o Coliseu, o Panteão, o Vaticano…

Todos os caminhos vão dar a Roma, e em Roma, todos os rabos de turistas vão dar à Fontana di Trevi. Há grandes, pequenos, volumosos, descaídos, flácidos, tonificados, tímidos, exuberantes… Os que se exibem em licras apertadas, napa brilhante, pelúcia de leopardo, ou os acanhados, que se escondem atrás de casacos apertados à cintura.

Vestem-se de cores distintas, provêm de toda a parte do mundo, conviveram intimamente com os mais variados bancos de aviões, voando relaxados, turbulentos, apertados em classe económica, ou folgados em primeira classe. Uns terão contado com as mais faustosas mordomias da porcelana de retretes de hotéis de luxo, e outros, mais modestos, contentar-se-ão com as despretensiosas sanitas do apartamento Airbnb, ou até com os tampos partilhados do WC do hostel low-cost, enquanto desfilam mais ou menos confortáveis dentro dos seus boxers, fio dental, asa delta, cuecas subidas…

É uma visão democrática, na verdade. São rabos de todos as etnias, credos e origens, uma espécie de We Are the World, mas das traseiras dos turistas, que, tal como eu vieram ver a Fontana. Ou pelo menos era o que eu julgava… Impreparada que estava, para me deparar com a aparatosa, e invertida visão: apesar de virem para contemplar a fonte, estão todos voltados para o lado contrário. Todos de costas. Todos.

As generalizações são arriscadas, tendenciosas, traiçoeiras: “Todos os italianos gesticulam… Todos os espanhóis falam alto… Todos os........

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