Que Deus tenha piedade deste país
"Que Deus tenha misericórdia desta Nação. Voto sim."
Foram apenas quatro segundos. Quatro segundos que Eduardo Cunha, então presidente da Câmara dos Deputados, levou para proferir essa frase ao votar pela admissibilidade do impeachment de Dilma Rousseff em 17 de abril de 2016. Quatro segundos que ressoam até hoje com força profética, como se carregassem em si todo o peso do inferno que seria desencadeado sobre a democracia brasileira.
A ironia trágica daquele momento histórico não poderia ser mais cruel. Ali estava um político sob investigação na Operação Lava Jato — acusado de receber US$ 5 milhões de propina em contratos da Petrobras — implorando a misericórdia divina enquanto conduzia um processo que configurava um golpe parlamentar. Um homem que aceitara o pedido de impeachment no exato dia em que petistas anunciaram voto contrário a ele no Conselho de Ética, movido por vingança pessoal, pedia a Deus que tivesse piedade da nação que ele próprio ajudava a despedaçar.
Eduardo Cunha sabia o que estava fazendo. A frase não era apenas retórica vazia — era o reconhecimento cínico de que estava abrindo as comportas de uma crise institucional sem precedentes na Nova República. Era a consciência de quem libera forças que não poderá controlar, de quem abre a caixa de Pandora e espera apenas que alguma entidade superior consiga conter o caos subsequente.
E o caos veio. O impeachment de 2016 não foi o fim de um ciclo, mas o começo de uma espiral descendente que nos trouxe até aqui: a eleição de Bolsonaro em 2018, os ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023, e agora, em 2025, uma crise de desestabilização orquestrada precisamente contra os três pilares que ainda sustentam a ordem institucional brasileira. A misericórdia que Cunha implorou não veio — ou, se veio, não foi suficiente para impedir que suas próprias ações desencadeassem anos de turbulência democrática.
Os três pilares da estabilização
Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal, emerge como guardião da interpretação constitucional e das punições contra tentativas golpistas. Sua atuação, especialmente após os atos de 8 de janeiro de 2023 e nas investigações sobre a trama para impedir a posse do presidente eleito, tem sido implacável na defesa da democracia. Moraes não apenas conduziu o julgamento que condenou 29 pessoas pela tentativa de golpe — incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos de prisão —, mas também se posicionou frontalmente contra tentativas do Congresso de atenuar essas penas através do chamado "PL da Dosimetria". Sua declaração de que "admitir redução de penas é flertar com novas tentativas de golpe" sintetiza sua postura institucional: a democracia brasileira não será refém da impunidade.
O........





















Toi Staff
Sabine Sterk
Penny S. Tee
Gideon Levy
Waka Ikeda
Grant Arthur Gochin
Daniel Orenstein
Beth Kuhel