Esta é a história de como se começa a perder a democracia: eu vi, ninguém me contou
São quase oito da noite, na Place de la République, no centro de Paris. É um final de tarde quente e as esplanadas em torno da estátua da Marianne, borbulham de vida e animação. Quando me aproximo da imagem da República Francesa, saltam-me à vista as pichagens que lhe mancham a pedra. Só então reparo que a placa central da praça tem um cordão de polícias de choque, parados à sua volta. Por entre eles vão passando jovens com lenços palestinianos ou bandeiras da Palestina. Cumprimentam-se à medida que se dirigem para a rua que fica mesmo em frente do local cercado pelos polícias. Uma das raparigas, que traz ao pescoço uma máscara antigás pimenta amarela, cumprimenta efusivamente um rapaz que, como ela, se aproxima de um grupo de manifestantes que não chegará aos 60. Juntos dizem vivas à Palestina e pedem a sua libertação, em Francês, Inglês e Espanhol. E aí ficam. Gritando e saltando ao ritmo das palavras de ordem.
Começa, então, a sentir-se a tensão subir. Os jovens continuam nos seus cânticos animados. Mas os polícias começam a convergir das bordas da praça para o centro. Chegam mais polícias. São todos muito jovens, mas ainda assim mais velhos do que os manifestantes. Reparo num rapaz de barbas ruivas, cuidadosamente aparadas, que comenta a cena com outro polícia moreno, enquanto se aproximam devagar, mas decididamente, para a pequena manifestação pacífica que decorre a poucos metros.
Há sensação de que está a alguma coisa para acontecer. Os polícias medem nas mãos os cassetetes e avançam. É como se estivesse prestes a começar uma caçada. Estão cada vez mais tensos. E começam a surgir mais polícias, vindos de todos os cantos da praça.
Quando........
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