Performance e poder: a comunicação política da primeira-dama
No início, achei que fosse um vídeo forjado, um fake. Não parecia plausível que a primeira-dama do país fizesse uma declaração daquelas. "Eu não tenho medo de você. Inclusive, fuck you, Elon Musk", disse ela, em uma performance cuidadosamente coreografada, com pausas dramáticas, impostação de voz e interação com o público. Uma voz em off reforçava e dava ênfase à interpretação. A plateia, cúmplice, ria e aplaudia.
Logo, um novo corte surgiu. Desta vez, o alvo da comicidade era o homem que planejou e executou um ataque a bomba ao STF, descrito por ela, entre risos, como "o bestão lá, que acabou se matando com fogos de artifício".
Com o novo vídeo, o contexto ficou claro: a primeira-dama estava palestrando sobre fake news e a necessidade de regulação das plataformas, em um evento oficial do G20 Social. Musk, visto como a personificação do mal digital, e o "bestão" radicalizado que se explodiu ao tentar um ato terrorista, serviam para ilustrar os perigos que plataformas sem regulação podem causar.
Não é a primeira vez que a comunicação política da primeira-dama me assombra recentemente. Pouco se falou na imprensa, mas as mais de duas décadas em que estudo comunicação eleitoral me permitem classificar como um golpe baixo o vídeo divulgado às vésperas do 2º turno das eleições paulistanas, no qual mulheres famosas alertavam que a eleição de Ricardo Nunes colocaria em risco 6 milhões de vidas femininas........
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