O sucesso literário como método de vingança
Com pouco mais de 20 anos, Édouard Louis considerava que já tinha vivido muito e que talvez fosse "tarde demais". Era hora de se dedicar integralmente à sua transformação, palavra que define toda a obra literária do autor (e toda a sua obsessão).
Mudou de cidade, mudou nome e sobrenome (nascera Eddy Bellegueule), mudou o jeito de falar, de andar, de comer, e ainda passaria por várias cirurgias em nome de uma aparência mais aristocrática.
Durante a infância e a adolescência, foram marcantes as experiências com o preconceito, a miséria e a fome. Seu pai não continha o incômodo odioso pelos trejeitos afeminados do filho; sua mãe o obrigava a implorar por comida aos vizinhos; seu primo foi morto na cadeia; seu irmão se tornou alcoólatra muito novo, e todos os homens da família, desde seu bisavô, tinham o mesmo destino precário: abandonavam os estudos muito cedo, trabalhavam na fábrica "moedora de ossos da coluna" com salários irrisórios e acabavam doentes.
Ao tentar fugir da vila de operários onde nasceu, no norte da França, e da sua sina familiar ("Desejei fugir da minha infância mais do que tudo, desejei escapar do céu cinza e da vida condenada dos meus amigos de infância, privados de tudo pela sociedade"), Édouard trabalhou como garçom, atendente de padaria, zelador, "arrumador" em teatros, professor particular e garoto de programa. Mas foram os diplomas em filosofia e sociologia em uma das instituições de ensino superior mais famosas da Europa que dariam a ele o........
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