Enfio a última bala na boca e meus amigos dizem: 'Olha elaaaa...'
Lucas acabou de chegar de Londres e trouxe gummies de cannabis: "Você não toma as gotinhas pra fibromialgia? É a mesma coisa, uma ‘brisinha’ boa". Ele abre a latinha e seus amigos se lançam com ímpeto. Meia hora depois estão todos agindo normalmente: conversam, bebem cerveja, digitam em seus celulares. Enfio a última bala na boca, em nome da minha lombalgia, que piora muito no inverno.
Lucas e Carol se olham como se dissessem "olha elaaaa!". Pergunto o que foi. Eles explicam que todas as balas menores, de um a cinco miligramas, já tinham acabado. Demorei e só sobrou a de dez miligramas, que é essa que acabei de enfiar inteira na boca.
Eu me recuso a ter uma síndrome do pânico gerada por uma frase. Não serão o olhar deles, a entonação deles, a voz deles que irão me gerar pânico. Se for para sentir qualquer coisa, a coisa vai ter que me procurar muito e lutar horrores para me encontrar. Eu não vou correr atrás da coisa apenas porque sou cismada e estou apavorada. A bala vai ter que tocar a campainha, entrar, perguntar para todo mundo quem eu sou e onde estou. E depois vai ter que me seduzir, e só então, seduzida, eu vou ceder meu corpo pra coisa toda da bala, e só então... Enfim, eu já estava com milhões de pensamentos por segundo, era tarde demais.
Abro o........
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