Comunicação USP 1997
Chego ao restaurante para a reunião e da porta já começo a torcer para o projeto dar errado. Seria uma entrada de dinheiro que resolveria minha vida por uns meses, mas o que é o dinheiro nessas horas?
Estava esperando qualquer coisa menos a beleza que me atormenta desde a adolescência e que me faz lembrar o pouco que aprendi sobre a Cruzada dos mauritanos. O jovem senhor que me esperava para uma reunião de negócios tirou meu corpo do automático e me devolveu, naquele breve espaço de tempo, a uma sensação similar à felicidade.
Notei pela maneira como ele tirou o casaco e dobrou as mangas que estava instaurada a tensão sexual. Então nem deixei que começasse a falar. Segurei delicadamente seu antebraço e disse: "Não vai dar certo, né?".
Não há por que começar um projeto envolvendo mil reuniões, advogados, infinitas discussões sobre valores, envios de notas, se em menos de duas semanas, talvez hoje, talvez agora, inevitavelmente vamos transar. Para que passar por isso? Sou do tempo em que se transava com pessoas do trabalho e com pessoas com quem pretendíamos trabalhar —e era uma maneira caótica e excitante de distrair a mente inflamada por tantos pensamentos intrusivos e penosos—, mas já fui bombardeada........
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