Os brasileiros são anticiência?
Somos todos náufragos, no dilúvio da desinformação científica. Alguns, abandonados. Outros, agarrados a uma boia. Uma pesquisa, recém-divulgada, nos ajuda a identificar quem ficou à deriva. E pode ajudar a construir botes salva-vidas.
A pesquisa, do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, em parceria com o Instituto Nacional para a Comunicação Pública da Ciência (INCT-CPCT), foi coordenada por Adriana Badaró e contou com entrevistas domiciliares e amostra representativa da população brasileira de 16 anos ou mais.
Pesquisas como essa são importantes e feitas no mundo todo: medem interesse, consumo de informação científica, confiança e atitudes sobre ciência e tecnologia (C&T), mostram o estado de saúde de uma nação e podem auxiliar políticas: não basta contar o número de doutores que formamos ou de artigos que publicamos, se não integrarmos esses números a indicadores que dizem se a ciência no país tem futuro (jovens podendo seguir carreiras científicas, cidadãos confiando em suas instituições, conhecimento circulando e podendo ser apropriado). Assim como não existe ciência sem cientistas, não existe democracia sem cidadania, e a cidadania, hoje, é tecnocientífica.
Na América Latina, o Brasil foi pioneiro nessas pesquisas, conduzindo surveys análogos em 1987, 2006, 2010, 2015, 2019. O que nos dizem esses dados? Em primeiro lugar, que os brasileiros não odeiam ciência e tecnologia: eles as consideram importantes, interessantes, benéficas. Cerca de 60% da população declara ter interesse pelo tema. É mais que o interesse em esportes, paixão nacional, e muito mais que o interesse em política, treta nacional.
Apenas 6% dos entrevistados acreditam que ciência e tecnologias impliquem "mais malefícios do que benefícios" para a humanidade. Contrariamente às impressões de intelectuais assustados por........
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