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Como a motivação se tornou a nova religião

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08.09.2024

A motivação pode ser entendida de duas maneiras. Primeiro, como uma característica natural do funcionamento do cérebro de seres vivos que se movem e buscam alcançar objetivos. Segundo, como pedagogia do comportamento e tutorial para se manipular/dirigir as outras pessoas, por meio de discursos sobre perdedores e vencedores, promessas de que as capacidades humanas são praticamente ilimitadas e um sem-fim de condicionamentos baseados em incentivos e punições.

As máximas de Ptaotepe (2400 a.C.), um conjunto de conselhos de um oficial egípcio para o seu filho, encaixam-se nessa segunda definição de motivação, assim como escritos de Cícero, Marco Aurélio e tantos outros precursores do gênero que ganhou forma definitiva na interface entre a psicologia laboratorial e a bonança do "sonho americano", durante a década de 1950.

A tradicional relação mestre-pupilo sai de cena e entra a autossuficiência, destacada no título do primeiro best-seller do gênero: "Autoajuda" (Samuel Smiles, 1859), que então passava por um processo de resgate.

A promessa dos anos televisivamente dourados é que cada um poderia decifrar o código da prosperidade, usando a ciência do comportamento. Isso levou ao surgimento de uma nova seção nas livrarias, a de autoajuda, que embora pareça homenagear Smiles, está mais conectada à proliferação do autoatendimento em postos de gasolina e lojas de conveniência conexas, que costumavam contar com uma pequena seleção de livros de bolso. Nas redondezas do caixa em que se paga pelo combustível, o sujeito sacia fome, sede e vazio existencial.

Depois vieram as frases motivacionais estampando cartões e brochuras, que têm menos a ver com a promessa de transformação pessoal que com a de construção de um repertório erudito de consumo rápido. A mesma promessa serviu de esteio para o lançamento da Fundação TED Talks (1984), que deu palco para uma das figuras típicas desse universo: o palestrante motivacional.

A ideia de autoajuda implica uma separação entre quem ajuda e quem é ajudado no domínio do eu. O que se assume é que o lado........

© UOL


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