A surpresa do IRS e a sedução da simplicidade
Todos os anos, quando chega abril, repete-se aquela dança ingrata entre contribuintes e o simulador do IRS. Este ano, porém, a música mudou e apanhou-nos desprevenidos. Não foram poucas as vezes que ouvi recentemente amigos comentarem, entre a incredulidade e o choque, que em vez dos mil euros de reembolso habituais iriam, este ano, pagar ao Estado quase mil e quinhentos euros.
Eu próprio senti esse amargo de boca, entre o espanto e o incómodo, ao perceber que a promessa subtil de maior liquidez mensal que vivemos em 2024, consequência direta da redução das taxas de retenção na fonte, afinal vinha acompanhada de uma armadilha silenciosa. Sim, era previsível dirão alguns. Era o efeito esperado de uma política económica que pretendia dar mais oxigénio ao bolso dos portugueses ao longo do ano, dirão outros. Mas falhou redondamente a comunicação, e poucos estavam preparados para este impacto na altura da verdade.
O problema central é que a nossa relação com o IRS sempre foi tudo menos financeira. Para muitos portugueses, o IRS nunca foi uma questão de planeamento ou gestão, pelo contrário, foi sempre uma espécie de “mealheiro invisível”. O reembolso do IRS servia para ajudar nas férias, para pagar o seguro do carro, substituir um........
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