Tarifas são trincheiras: a Europa não pode alinhar
Pode não aquecer corações, mas o comércio livre sustenta salários, preços justos e estabilidade. Há séculos, os defensores do livre mercado alertam para as consequências devastadoras do protecionismo. Ludwig von Mises, um dos principais pensadores liberais do século XX, escreveu em Liberalismo (1927) que as tarifas alfandegárias são entraves ao progresso económico. Hoje, esse alerta volta a ser urgente. Donald Trump reacendeu a guerra comercial com a China e coloca agora a Europa numa encruzilhada.
O protecionismo dominou a política europeia no período mercantilista, entre os séculos XVI e XVIII, quando se acreditava que o comércio era um jogo de soma zero e que a riqueza dependia de superavits e reservas de metais. Foi contra isso que se ergueram Adam Smith e os economistas clássicos, demonstrando os benefícios mútuos da especialização e do comércio livre.
Quando Mises escreveu Liberalismo, o mundo passava por um momento de recaída. Após a Primeira Guerra Mundial, muitos países voltaram a fechar-se. O protecionismo ganhou força, ignorando tudo o que a ciência económica já tinha estabelecido. Foi neste ambiente que se abriram as portas a uma nova vaga de nacionalismo económico, instabilidade e antagonismos internacionais. Um caldo que acabaria por desembocar na Segunda Guerra Mundial.
Hoje, a União Europeia assiste, hesitante, à escalada de tarifas sobre automóveis, aço e outros bens. Os argumentos de Trump são familiares e talvez apetecíveis para quem não conhece a história: proteger empregos, equilibrar a balança comercial, responder a práticas desleais. Mas Mises desmontou essas justificações há quase 100 anos. Para ele, a liberdade de comércio é extensão da liberdade individual. Limitar o comércio é prejudicar o bem-estar geral para favorecer interesses particulares.
No capítulo dedicado ao comércio externo em Liberalismo, Mises sublinha que a defesa do comércio livre não é uma opinião entre muitas outras, é a conclusão inevitável da teoria económica clássica. Demonstrar os seus benefícios tornou-se, desde Adam Smith e David Ricardo, o eixo fundamental da análise económica. O argumento é simples: cada país tem vantagens competitivas específicas, onde deve concentrar-se por conseguir fazer melhor e trocar esses........
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