Queremos um país a duas velocidades?
Portugal vive, há décadas, prisioneiro de uma profunda disparidade territorial, onde o litoral prospera enquanto o interior definha silenciosamente. Esta clivagem territorial não é apenas um resquício histórico ou uma anomalia demográfica, mas, sobretudo, uma manifestação da ausência de visão estratégica na condução das políticas públicas no nosso país. A concentração populacional em menos de um quarto do território, a par do despovoamento crescente do restante, revela uma falência do Estado em garantir a mais básica das promessas democráticas: a igualdade de oportunidades, independentemente da região de residência.
A dicotomia litoral–interior tornou-se estrutural. O ciclo é perverso e autorreprodutivo, já que menos população traduz-se em menos investimento, menos serviços e menos emprego qualificado, o que por sua vez acentua a fuga e o envelhecimento populacional. A espiral descendente não é travada, dada a apresentação de soluções invariavelmente centralistas e lineares. Portugal persiste, pois, num modelo de desenvolvimento urbano, que vê o interior como espaço de compensação e não de........
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