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Gouveia e Melo: com autoridade ou autoritário?

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28.02.2025

No artigo publicado no Expresso intitulado “Honrar a democracia”, Henrique Gouveia e Melo, Almirante na reserva, apresentou-se, não oficialmente, como candidato à Presidência da República, partilhando o seu posicionamento político, a sua visão sobre o presente e o futuro do país, o seu entendimento sobre a figura e os poderes constitucionais do Presidente da República e a sua opinião sobre o sistema político vigente.

Começou o referido artigo por dizer “Situo-me politicamente entre o socialismo e a social-democracia…”. Uma vez que eu não me situo no mesmo campo político, achei que não valia a pena continuar a leitura iniciada. Ainda assim, por curiosidade, decidi ler o artigo até ao fim.

Quando acabei lembrei-me de imediato de uma frase que ficou célebre no meio universitário e que terá sido dita numa arguição de uma tese de doutoramento por um dos professores arguentes: “…no seu trabalho diz coisas boas e coisas originais; porém, as originais não são boas e as boas não são originais”.

Como Gouveia e Melo diz a certa altura no seu próprio artigo, “Não basta sonhar ou recorrer a discursos elaborados, repletos de fórmulas gastas e banalidades cínicas”.

Mas o artigo de Gouveia e Melo, para além ter ideias originais que não são boas e ideias boas que não são originais, tem, em minha opinião, várias frases que são preocupantes ou que, pelo menos, me preocuparam em particular.

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Por exemplo, quando diz que “Os valores fundamentais da ética republicana e das democracias liberais estão a ser postos em causa, inclusive por aliados historicamente próximos”, numa clara alusão aos EUA e à sua actual Administração; ou quando, apesar de dizer que as liberdades de informação, expressão e contestação devem estar devidamente salvaguardadas, defende que “No entanto, sendo a democracia tolerante por natureza, não deverá, em defesa própria, permitir ideias e práticas intolerantes, sob o risco de estas comprometerem a própria tolerância, e, consequentemente, a própria democracia…”??

Pergunto-me, pois, se Gouveia e Melo for eleito Presidente da República, será capaz de honrar a democracia?

Para poder responder a tal pergunta quero basear-me essencialmente em factos, pois, como escreveu Florbela Espanca (exceptuando a parte de ser poetisa), “Digo o que penso e, muito simplesmente enuncio factos pois que, apesar de poetisa, ligo bem maior importância aos factos do que às palavras por bonitas que sejam. Palavras são como as cantigas: leva-as o vento”. Vamos então aos factos.

Gouveia e Melo tornou-se conhecido dos portugueses por ter sido o Coordenador da Task Force do Plano de Vacinação contra a Covid-19 em Portugal de 03.02.2021 a 28.09.2021. Cada um terá certamente, como eu tenho, uma opinião sobre o modo como essa função foi exercida.

O que, neste momento, importa assinalar é que Gouveia e Melo foi um militar toda a sua vida profissional (45 anos). Nos primeiros anos, habituou-se a obedecer a ordens sem as questionar. Depois, à medida que foi subindo na hierarquia militar, habitou-se a dar ordens sem as mesmas serem questionadas.

Dois episódios que são do conhecimento público podem ser dados como exemplo dessa sua profissional propensão para........

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